domingo, 20 de maio de 2012

Os Sem Rosto e o Devoteísmo...


Eu tenho pensado nas informações que estamos coletando na comunidade e na diversidade delas. Alguns pontos em comum entre os devotees são fáceis de serem observados e assimilados, não diria aceitos, pois ainda existe uma desconfiança muito grande por parte das deficientes em relação ao devoteísmo, ou melhor, não somente delas, mas da sociedade.

Por que essa desconfiança? Estamos há anos debatendo, mesmo aqueles mais novos entre nós estarão comemorando seus dois, três, quatro anos entre as paredes sem tijolos da internete, onde tudo o que se observa, tudo o que se vê não se apalpa, não tem cheiro ou gosto.

Eu sei que muito do que escrevemos aqui é mais do que falamos para nossos familiares ou melhores amigos, é comum nessas comunidades tanto deficientes quanto devotees usarem esses espaços para um auto conhecimento e revirarem suas entranhas.

Apesar de ter consciência das relações virtuais e de como elas podem ser intensas, tenho consciência também que durante esses anos não vi nenhum devoto fazer um relato de estar envolvido com uma deficiente, de ter conhecido ou de ter dado prosseguimento a essas relações quando houve um encontro, dois ou mais.

O que podemos notar aqui ou ali, são devotees que vêm nos relatar suas experiências, mas os outros personagens desses relatos são anônimos, não que as pessoas precisem nomear ou identificar esses personagens, não é isso, porém fica a impressão que o outro lado não existe, ou estão escondidos por trás da deficiência. Existe sim o intenso desejo do contato real ou virtual, o devotee e a deficiência, mas isso é tudo.

Como uma deficiente irá processar essas informações? É muito comum uma ou outra irem até as páginas de seus devotos deixarem uma pista, um recado na necessidade de se auto afirmarem quando um contato virtual rompe suas barreiras e cai de braços abertos na realidade e então elas dizem entre mensagens subliminares ou diretas: "Olha, nós saímos, lembra? Estou aqui, já me esqueceu?"

E o que vem logo a seguir na maioria dos casos? Nada, somente o silêncio... Desculpas vazias, a insistência da deficiente, às vezes o rancor, a decepção e fim...

Eu sei, alguns de vocês dirão: “Mas eu tenho um caso com uma deficiente há anos, assumo o que faço, saio com ela”.

Outros me dirão: “Não encontrei a deficiente ideal para assumir um relacionamento”.

E ainda: “Eu quero apenas sexo”.

Tudo bem, não vou questionar os motivos ou as desculpas, se são bem embasadas ou não.

Não me agrada ser defensora nem de um lado e nem de outro, as relações humanas por via de regra são muito complexas para que tentemos resumir o devoteismo com feminino e masculino ou vice versa, ou seja: Uma deficiente, um devotee. Um deficiente, uma devotee. Não, não somos o impar procurando o seu par. Claro, quando o encontro acontece pode ser perfeito.

Mas não lhes parece estranho que em anos de convívio e debates virtuais, nenhuma deficiente tenha vindo aqui relatar um contato que soasse mais agradável aos olhos de quem lê ou satisfatório à elas? Ou que algum devotee não tenha vindo dividir conosco as delícias de um envolvimento além do fetiche?

Isso tudo é muito nebuloso quando nos deixamos apequenar e escorrer o devoteísmo e a deficiência pelo funil dos rótulos. Quando nós mesmos perguntamos a esse ou aquele: Qual sua deficiência preferida? Ou... Já teve contato com devotees?

Geramos idéias errôneas, como se a deficiência e o devoteismo por si se bastassem... Não bastam, por isso ainda temos fantasmas, corpos sem rostos, sem identidade e expectativas absurdas tanto de um lado quanto do outro, pessoas lutando para ganhar uma face quando já as têm, mas não são vistas.

Regina

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