segunda-feira, 28 de maio de 2012

Autoestima e Devoteísmo...

 
 
Autoestima segundo a wikipedia tem o seguinte conceito:

"Em psicologia, autoestima inclui a avaliação subjetiva que uma pessoa faz de si mesma como sendo intrinsecamente positiva ou negativa em algum grau (Sedikides & Gregg, 2003)."

A partir dessa premissa quero falar um pouco de como a autoestima do deficiente poder a vir a ter alterações em contato com o devoteísmo.
Por mais que escrevamos e digamos que ser deficiente nos dias de hoje seja diferente de há alguns anos, não podemos fingir que somos vistos como pessoas convencionais. Através do olhar do outro muitas vezes a nossa auto-estima se deteriora, pois fazemos dos olhares alheios o nosso próprio espelho.

Uma situação muito comum para os/as deficientes, é serem vistos como bons amigos, como bons companheiros ou confidentes. Enfim em um meio social que cultua o convencional passam a ser assexuados. Quando saem dessa linha, quando ousam, os comentarios feitos são em sua maioria em tom de deboche e preconceito.

Onde entra o devoteísmo em meu raciocínio? Não sou mais uma neófita nesse universo e nem os olhares alheios me atingem. Mas não posso desconsiderar o efeito que o devoteísmo possa ter em qualquer deficiente, homem ou mulher, em sua autoestima em um primeiro contato.
Principalmente se o meio em que vive for inóspito.

No devoteísmo tudo que era negativo passa a somar, passa a encantar, revira-se as entranhas do convencionalismo para ser uma obra de arte surreal apreciada e desejada como tal. A autoestima do deficiente passa por uma transformação. Há aqueles deficientes que negam esse encantamento, negam o fascínio dos desejos tortos, negam serem vistos como objetos, segundo eles. Mas ainda assim, têm consciência que são desejados.

E existem aqueles que se deixam levar pelo devoteísmo como se fosse uma droga para todos os dissabores que possam ter tido em suas vidas enquanto deficientes.
Mas nesse caminho muitas magoas podem se acumular. Não é segredo para ninguém que dentro do devoteísmo temos as mais variadas personalidades e formas de exercer essa atração. Então a mesma autoestima que um dia teve seu up, começa a pregar peças na necessidade de não se manter mais em alta se não tiver contatos efetivos com devotees.

No vai e vem dos devotees, surgem as dúvidas: “O que tem de errado comigo? Se sou deficiente, por que eles não me querem além de uma noite, duas, ou por que não sou a única?”
A autoestima consequentemente cai consideravelmente nesses casos a ponto de se sujeitarem a receber migalhas na ânsia de fugazes momentos em que se sintam bem novamente.

Mas o problema não está no/na deficiente e sim nesses relacionamentos que vão perpetuando o mito que ser devotee é ser colecionador, que ser devotee é ser compulsivo, que ser devotee é ter quantas mulheres quiser e sempre com a conivência das mesmas.

Se existe a compulsão, se existem as coleções, se a idéia de que o devoteísmo não comporta outro tipo de relacionamento se não o aberto, é porque os/as deficientes compactuam com isso.

A autoestima retrata com exatidão como se processam as relações devotee/deficiente. Pois se nos acostumamos ao que é ruim esquecemos que podemos ter relacionamentos muito melhores até mesmo dentro do devoteísmo.

O equilíbrio se faz necessário em nosso Universo. É preciso sim, ter uma autoestima elevada para que não nos deixemos atropelar por preconceitos que trazemos através dos anos, mas essa autoestima que se modifica com o conhecimento do devoteísmo não pode e não deve pautar nossas vidas e nem nossas relações humanas. Digo humanas pois vejo que muitas vezes os/as deficientes se atropelam sem um resquício de dignidade. O importante é ter no devoteísmo um incentivo, uma forma de relacionamento, mas não fazer dele o centro de nossas vidas. Um/a deficiente que pauta sua autoestima colecionando devotees ou almejando se relacionar com esse ou aquele mesmo sabendo do comprometimento existente entre algumas deficientes e alguns devotees não pode mais tarde fazer cobrança alguma, pois nem mesmo terá sua autoestima em socorro.

É um caminho degradante, infelizmente.

Autoestima e ego se completam quando um e outro dentro do devoteísmo conseguem se suprir sem violentar a dignidade.

Regina

domingo, 20 de maio de 2012

Os Sem Rosto e o Devoteísmo...


Eu tenho pensado nas informações que estamos coletando na comunidade e na diversidade delas. Alguns pontos em comum entre os devotees são fáceis de serem observados e assimilados, não diria aceitos, pois ainda existe uma desconfiança muito grande por parte das deficientes em relação ao devoteísmo, ou melhor, não somente delas, mas da sociedade.

Por que essa desconfiança? Estamos há anos debatendo, mesmo aqueles mais novos entre nós estarão comemorando seus dois, três, quatro anos entre as paredes sem tijolos da internete, onde tudo o que se observa, tudo o que se vê não se apalpa, não tem cheiro ou gosto.

Eu sei que muito do que escrevemos aqui é mais do que falamos para nossos familiares ou melhores amigos, é comum nessas comunidades tanto deficientes quanto devotees usarem esses espaços para um auto conhecimento e revirarem suas entranhas.

Apesar de ter consciência das relações virtuais e de como elas podem ser intensas, tenho consciência também que durante esses anos não vi nenhum devoto fazer um relato de estar envolvido com uma deficiente, de ter conhecido ou de ter dado prosseguimento a essas relações quando houve um encontro, dois ou mais.

O que podemos notar aqui ou ali, são devotees que vêm nos relatar suas experiências, mas os outros personagens desses relatos são anônimos, não que as pessoas precisem nomear ou identificar esses personagens, não é isso, porém fica a impressão que o outro lado não existe, ou estão escondidos por trás da deficiência. Existe sim o intenso desejo do contato real ou virtual, o devotee e a deficiência, mas isso é tudo.

Como uma deficiente irá processar essas informações? É muito comum uma ou outra irem até as páginas de seus devotos deixarem uma pista, um recado na necessidade de se auto afirmarem quando um contato virtual rompe suas barreiras e cai de braços abertos na realidade e então elas dizem entre mensagens subliminares ou diretas: "Olha, nós saímos, lembra? Estou aqui, já me esqueceu?"

E o que vem logo a seguir na maioria dos casos? Nada, somente o silêncio... Desculpas vazias, a insistência da deficiente, às vezes o rancor, a decepção e fim...

Eu sei, alguns de vocês dirão: “Mas eu tenho um caso com uma deficiente há anos, assumo o que faço, saio com ela”.

Outros me dirão: “Não encontrei a deficiente ideal para assumir um relacionamento”.

E ainda: “Eu quero apenas sexo”.

Tudo bem, não vou questionar os motivos ou as desculpas, se são bem embasadas ou não.

Não me agrada ser defensora nem de um lado e nem de outro, as relações humanas por via de regra são muito complexas para que tentemos resumir o devoteismo com feminino e masculino ou vice versa, ou seja: Uma deficiente, um devotee. Um deficiente, uma devotee. Não, não somos o impar procurando o seu par. Claro, quando o encontro acontece pode ser perfeito.

Mas não lhes parece estranho que em anos de convívio e debates virtuais, nenhuma deficiente tenha vindo aqui relatar um contato que soasse mais agradável aos olhos de quem lê ou satisfatório à elas? Ou que algum devotee não tenha vindo dividir conosco as delícias de um envolvimento além do fetiche?

Isso tudo é muito nebuloso quando nos deixamos apequenar e escorrer o devoteísmo e a deficiência pelo funil dos rótulos. Quando nós mesmos perguntamos a esse ou aquele: Qual sua deficiência preferida? Ou... Já teve contato com devotees?

Geramos idéias errôneas, como se a deficiência e o devoteismo por si se bastassem... Não bastam, por isso ainda temos fantasmas, corpos sem rostos, sem identidade e expectativas absurdas tanto de um lado quanto do outro, pessoas lutando para ganhar uma face quando já as têm, mas não são vistas.

Regina

quarta-feira, 16 de maio de 2012

À Sua Semelhança...



Tenho observado entre nossos devotos um quê de dificuldade em relação aos amigos, familiares na aceitação do devoteísmo principalmente quando eles são oriundos de famílias religiosas e pensando nisso foi que resolvi escrever um pouquinho a respeito...

Para iniciar meu texto, trago o pensamento e a imagem que ainda vêmos em contos de fadas, filmes e principalmente a vigência atual pela busca de um corpo perfeito. O perfeito para o ser humano assemelha-se ao belo ao bom, à luz. As anomalias, o
disforme, o assimétrico, os aleijões são tidos em contrapartida como feio, escuro, mau.

Quando nos vêmos diante do antigo testamento, em Gênesis, na criação do mundo, e do homem, ao meio ao caos, segundo a Bíblia, se faz a luz, e assim posteriormente teremos a criação de todas as coisas e por fim o Homem à semelhança de Deus.
Ótimo, cria-se um homem perfeito, belo, simétrico, único e da perfeição dele surge Eva, pobre Eva... Enfim, todo o mal foi relegado ao feio, ao assimétrico, ao torto da primícia que somos perfeitos, bons, se formos semelhantes à Deus.

Na mitologia grega nos deparamos com Hefesto o Deus deficiente que não aceito no Olimpo é exilado às entranhas da terra onde exercerá uma atividade não exercida pelos deuses. Hefesto é um mito e como tal nos remete à origem, às raízes da sociedade, dos costumes, das leis, dos medos e quiçá do nosso velho conhecido o preconceito.
Oras, tudo que possa ser diferente de Deus ou dos Deuses é imperfeito, invoca o pecado, o profano, o castigo.

A deficiência passa a ser excludente. A humanidade adota o perfeito em nome de Deus, e assim seguem as várias vertentes religiosas.
E isso se torna tão forte e pungente que ainda hoje o deficiente é visto como um castigo, um meio de provação para si mesmo ou para aqueles que têm contato com sua realidade.

Sexo? O que é sexo para deficientes? Impossível serem desejados, dirão alguns, são pessoas indesejáveis, profanas, não bem quistas, tortas, feias. Ou não dirão, mas estará em seus inconscientes gravado pela história coercitiva da humanidade, seus mitos, sua religiosidade, suas crenças.
E por mais que neguem, sugiram outras teorias a respeito do preconceito quanto aos desejos tortos, não vejo outra explicação se não a própria história da deficiência dentro da religião e da sociedade.

Estão intrinsicamente ligados deficiência e devoteísmo quando o contexto é a negação da sexualidade do deficiente, do desejo do deficiente. Ao deficiente introjeta-se a imagem do pecado, do castigo, da ferramenta, do sofrimento, sem direito ao prazer, ao sexo pelo sexo, e nem mesmo para procriação. Aos devotees introjeta-se a imagem daquele que ousa a desejar o indesejável, ao que nega a perfeição de Deus para seu deleite, para seu êxtase.

Deixemos de lado todas as conseqüências, todas as relações devotees/deficientes, voltemos ao início, voltemos ao nosso Gênesis e veremos que o estranhamento pela atração que devotees sentem por nós deficientes está relacionado ao nosso próprio estranhamento, à nossa ignorância quanto à outras deficiências, à nossa intolerância com o que nós é também diferente. Porque alguns de nós também buscam no outro a semelhança com o perfeito, com o simétrico, com Vênus, com Adão, com Eva, com Eros, e não a semelhança com Hefesto.

E quem somos nós para condenarmos o torto, o imperfeito, a anomalia, o aleijão?
Se a religião, a sociedade impõem seus milhares de anos de excludencia do diferente e estamos buscando em outros pontos sermos aceitos, por que a dificuldade de tantos deficientes aceitarem que assim como nós nascemos ou nos tornamos diferentes existem pessoas que não são portadoras de nenhuma característica física torta, mas são portadoras de desejos diferentes, de desejos que não se encaixam na convencionalidade das religiões e sociedade? Se muitos deficientes tem essa dificuldade em aceitar, em assimilar, em deixar o preconceito de lado, como outras pessoas aceitarão?

Por outro prisma, os próprios devotees não se aceitam, caem nas mesmas armadilhas dos estereótipos, dos paradigmas da perfeição coercitiva da maioria. E preferem apegarem-se à ela, mesmo não concordando.

O que fazer? Comecei esse texto falando das famílias, e termino falando do indivíduo, da mudança de dentro pra fora, do um para dois, três, quatro ou mais... Para que tanto os deficientes sejam aceitos quanto os devotees, cada uma na sua maneira torta de ser.

A semelhança com Deus? Não sei, não... Não conheço um Deus em carne, osso, sangue, corpo e face, portanto difícil dizer qual de nós se parece com ele fisicamente.

Regina

sábado, 12 de maio de 2012

A Consagração do Devoteísmo...

 Algumas das dúvidas que sempre tive foram sobre as raízes do devoteísmo e o porquê da dificuldade em encontrarmos um denominador comum entre tantas teorias, sim, existem muitas características semelhantes entre os devotees, mas pinçar com precisão onde o devoteísmo teve início para cada um deles é uma tarefa quase impossível, só mesmo através de seus relatos individuais para vislumbrarmos como e onde brotou o desejo, a atração inicial individualmente. E ainda assim, muito do que não se recordam pode esconder essas raizes...

E eu penso que por esse motivo seja leviano atribuir um conceito definitivo ao que se é ou não um devotee. Ao que me consta em alguns países só são considerados de fato, devotees, devotos, pessoas que sentem atração por amputados. Englobando as vertentes dessa atração, ou seja, pretenders e wannabes. O que aqui chamamos de devotees universais são chamados por lá de "admiradores".
Bem sabemos no entanto que muitos "admiradores" dentro de suas próprias hierarquias nesse nosso universo de desejos tortos também sentem atração por amputadas.

Um outro fato curioso é a maneira como alguns devotees se portam, ao que já chamamos por aqui de voyerismo dentro do devoteísmo. Lembrei-me de um estudo feito com uma devota que ao se descobrir como tal por ler algo em uma revista sobre a atração que até então achava ser única e exclusivamente sua, foi buscar mais informações com profissionais.

Nesse estudo ela abriu suas gavetas particulares, relatando tudo que sentia desde o primeiro momento em que se viu atraída por um deficiente na adolescencia. Ela segue contando os vários contatos que teve com deficientes, inclusive casando-se com um. Mas o mais intrigante pra mim foi ela dizer que preferia a masturbação ao ver os deficientes e o próprio marido do que fazer sexo com eles. Alegando que o prazer seria muito mais intenso.

Eles apesar de deficientes não atraiam seu lado fêmea. A característica em comum sim, ou seja, a deficiência, mas não o conjunto. E acredito que nesse ponto temos a resposta para alguns de nossos tópicos onde abordamos a bissexualidade, a maternidade e a virtualidade. Não haveria seguindo o raciocínio desse estudo uma vinculação de alguns devotees à pessoa deficiente, mas sim à condição. Não existindo necessariamente um contato sexual com o deficiente, a fantasia prevalece sobre a realidade, mesmo em um contato real.

Ao término desse estudo, a devota relata ter simulado várias vezes ser deficiente, sentindo-se excitada com a prática, geralmente em viagens e lugares onde não era conhecida. E por fim admite e traz para si a própria raiz, a sua consagração, ser ela a deficiente. Isso a faria feliz, completa...

Um caso que também me chamou a atenção foi um outro devoto, depois de anos trabalhando com deficientes, finalmente se casa com uma amputada. Porém ao contrário da citação anterior, ele se sentia totalmente realizado, satisfeito, envolvido emocionalmente e fisicamente. Mas com um receio terrível que sua mulher descobrisse o devoteísmo e ser ele, um devotee. A sua consagração enquanto devoto, veio, mas envolta em nuvens de incertezas de ser aceito tal como é.

E então como ficamos? Como consagrar um devoto? Como dizer você é ou não um devoto? Ou, esses são melhores do que outros?

Eu citei esses dois casos pois ultimamente temos atribuído características distintas aos devotees homens e às devotees mulheres, e de repente me deparo com histórias totalmente diferentes do que estamos acostumados, histórias contrárias às regras, onde a mulher devotee pode ser bem mais distante da pessoa que porta a deficiência do que o homem devotee.

Seria bom que pensássemos um pouquinho antes de nós mesmos coroarmos o devoteísmo com uma coroa de flores ou de espinhos. Consagrar ou recriminar dentro de tantos achismos não está certo. Talvez por isso nossa dificuldade em conceituar o que às vezes foge aos nossos conceitos interiores e nossas expectativas.

A única certeza que eu tenho dentro da minha experiência enquanto amputada e observadora dentro de nosso universo é não sermos nós os deficientes melhores ou piores do que os devotees, essas pessoas tão instigantes...
E se houver um dia uma consagração ao devoteísmo, que seja uma consagração desprovida de preconceitos, uma consagração ao diferente... Sejamos nós, devotees ou deficientes...

Regina

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Ser ou não Ser, um Parafílico...

Sei que já falamos sobre as parafilias, mas acho importante retomar o tema para aqueles que ainda são neófitos em nosso universo.

Parafilia refere-se ao sexo paralelo, fora das convenções. Há de se lembrar que sexo oral, sexo anal já foram vistos como perversões, ou seja, parafilias. Assim como também a homossesualidade e as masturbações também tiveram seu momento parafílico em nossa história universal. Hoje o  correto quando nos referimos aos homossexuais seria dizer homossexualidade que seria uma preferência e não homossexualismo uma patologia.

Como ficaria o Devoteísmo se um dia saísse do rol dos ísmos ou até mesmo dos nossos achismos? Devotossexualidade? Que nome complicado...
Mas, enquanto isso não acontece o devoteísmo é classificado como uma parafilia dentro do fetichismo: Atração por objetos, partes do corpo ou até mesmo a falta delas.

Não é incomum um devotee ter mais de um parafilia por isso observamos alguns com pinceladas de sadismos, outros de voyerismos, etc.
Existe uma dúvida que paira sobre os interessados em nosso Universo, dúvida essa do mesmo cunho embora possa estar entre os deficientes e entre os devotees e não devotees:
“Serei eu um devotee por me relacionar com uma deficiente”?
“Será ele um devotee por estar comigo?”

As parafilias em geral são recorrentes, para um diagnóstico os profissionais consideram que seja necessário o mínimo de seis meses de fantasia e desejos sexuais intensos dentro de cada caso. Ou seja, alguém que faz da deficiência sua fonte de prazer há algum tempo mesmo não tendo relacionamentos com os deficientes, não há como fugir de ser um devotee ou admirador.

E isso é importante salientar, pois como vimos em outro tópico, existe a dúvida quando nós deficientes nos relacionamos com alguém. Não vejo como rotular todos os nossos contatos como devotees, a não ser que notemos que entre suas preferências formas de aproximação com outros deficientes ou com nosso universo, sejam essas formas quais forem.

E para desmistificar um pouco o mito da compulsão dentro do devoteísmo, acredito que muitos usem desse mito para desculpar seus atos, saliento que uma parafilia só é considerada patológica se for extremamente compulsiva. Sendo assim, podemos concluir que nem todos os devotees sejam compulsivos e obsessivos.

Em outra hora quero falar mais um pouco dos diferentes graus de intensidade dentro das parafilias e mais especificamente dentro do devoteísmo.

É isso... Beijos

Regina

terça-feira, 8 de maio de 2012

Devotees... Quem são?



Sei que muitas pessoas em nosso Universo já leram ou sabem o que irei postar, mas o tráfego de pessoas indo e vindo em nossas comunidades embora pareça pequeno é intenso. Com isso algumas informações não são observadas, outro fator para que isso ocorra é o fluxo de tópicos ser constante. Sendo assim, vamos lá:

1- Devotees:
Pessoas heterossexuais, homossexuais ou bissexuais que sentem atração por deficientes físicos, exercendo ou não essa atração. Em alguns casos os devotees não chegam a manter relações sexuais com os deficientes por alguns motivos, um deles ser um devotee cuidador que visa cuidar, estar por perto sem no entanto nem sempre vivenciar essa devoção sexualmente.

2- Como identificar o devoteísmo em uma pessoa?
Para nós deficientes só mesmo observando e estando atentas aos nossos contatos. Para mim um devotee se revela na maneira de olhar para uma deficiente.
Para os devotees, curiosos ou indecisos, identificar o devoteísmo em si mesmos nem sempre é simples. Pois, por mais que conceituemos o devoteísmo, as características pessoais de cada um faz um devotee ser único. Ou seja, as preferências são similares, alguns pontos são comuns, mas outros são extremamente particulares. Esse é um assunto bem amplo, que deixarei para esmiuçar em outra hora.

3-Qual o chamariz para um devotee?
Sempre, sempre a deficiência, seja ela materializada em muletas, cotos, condições, seqüelas, cadeira de rodas ou qualquer aparato do deficiente. A deficiência será sempre a resposta para a busca de um olhar de um devotee. Dentro ou fora da net. Basta que observem que aqueles que aqui chegam nos procurando vêm buscando o universo dos deficientes e entender a atração que sentem por nós.

4- Devotees são colecionadores?
Alguns foram ou são. Por que? Talvez alguns tenham uma dificuldade de estabelecer laços afetivos. E aí entramos no campo da compulsão, da patologia e até do preconceito.

5- Devotees são fetichistas? 
Sim, em uma menor ou maior escala. A atração é pautada em uma condição, em determinadas partes do corpo, ou em seus aparatos. Portanto uma parafilia. Parafilias, são atrações paralelas às convencionais. Lembrando que a homossexualidade, sexo anal, masturbações e sexo oral já tiveram seu momento parafílico e hoje não mais assim são consideradas.
6- Fetichismo é patológico?Nem sempre, a patologia se manifesta em fetichistas incapazes de estabelecer vínculos afetivos e amorosos. O que chamamos de coisificação. Portanto, devotees podem ter um devoteísmo patológico se forem incapazes de dar um passo a frente da atração inicial com um deficiente. O que não quer dizer que resultará em um encontro apenas. O entrave é estabelecer um relacionamento a contento dos envolvidos tendo como base inicial a deficiência.

7- Devotees amam?
Pergunta difícil... Mas sei que muitas deficientes têm essa dúvida e buscam o amor em nosso Universo. Eu acredito que sim, mas não é regra. Eu diria que são exceções, mas existem.

8- Devotees mulheres são diferentes de Devotees Homens?
São. Mas lembrem-se que o principal têm em comum: A atração pela deficiência de seus parceiros.

Esse nosso Universo é tão complexo que não conseguiria esquematiza-lo em um só tópico, seria impossível essa façanha. Mas como sei que as dúvidas são muitas nunca é demais repetir os conceitos mais básicos. E ainda assim nesses anos de debates, esses conceitos básicos sofreram mutações e estamos a todo momento inserindo ou tirando observações.

Bom, é isso...

Regina

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Rompendo o Casulo...




Tenho lido tantas coisas aqui e ali, não somente nas comunidades voltadas ao devoteísmo, mas também em comunidades onde debatem a posição das mulheres nos dias de hoje. Há quem pense que a evolução ou revolução e emancipação das mulheres as levaram a um retrocesso como seres humanos, ao sexo fácil sem critérios e à desvalorização do “ser” mulher.

Mas “ser mulher” vai além dos conceitos e achismos de algumas pessoas. Mulheres são complexas, mulheres sangram, mulheres conservam a fêmea dentro de si apesar do dia a dia, da rotina, da realidade e até mesmo de uma deficiência.
Se existem teorias e defensores da estagnação do progresso feminino, e nessas teorias e defesas, as deficientes ou minorias não são consideradas, imaginem como pode ser espinhoso o caminho de uma deficiente que busca o exercício da sua sexualidade diante dessas pessoas. Como as deficientes podem ser alvos da condescendência asquerosa e ou do escárnio ferino quando expostas em um suposto erro, em um suposto tropeço.

Já debatemos uma vez à volta à adolescência quando uma deficiente toma conhecimento do devoteísmo, hoje eu penso diferente, todas as mulheres estão sujeitas a essa volta se a adolescência não foi bem vivenciada e em momentos de fragilidade. Mas nas deficientes esse retorno parece ser mais intenso em um contato inicial com os devotees , basta observarmos o comportamento competitivo e as expectativas que deixam à mostra e a paixão instantânea que prolifera de seus relacionamentos, paixão essa, quase sempre unilateral.

E então, vem a cobrança da sociedade... Os olhos se voltam para elas... E eis que surge novamente o estigma de coitadinhas em paradoxo com a força que demonstraram ao se arriscarem...

É como se não houvesse uma saída, ou estão caçando, ou estão se vitimizando aos olhos daqueles que preferiam não estar cientes que elas, além de viverem, falam e pensam, e ás vezes falam alto, bem alto... Tanto que incomodam quem não quer ser incomodado.

Muitas então depois de um envolvimento com um devotee, que é o que nossa comunidade se propõe a debater, a deficiência, o devoteísmo, seus calços e percalços, enfim, muitas então preferem se calar, escondem seus romances, seus envolvimentos.

Acredito eu, que em primeiro lugar para buscar novos relacionamentos, para passar certa inocência em relação ao devoteísmo, certa pureza. Mas por mais que a sociedade nos cobre, nos vitimize ou nos iniba, aqui dentro desse círculo as deficientes têm um papel diferente e não deveriam vivê-lo como se fosse um crime a ser escondido ou uma mácula em seus currículos de pobres mulheres indefesas e ingênuas.

Em segundo lugar e bem usual é procurarem uma nuvem de fumaça para o orgulho quando sentem-se preteridas ou enganadas. Não saíram, não se relacionaram, portanto jamais foram usadas pelos vis devotees. Geralmente nesses casos podem tornar-se ferrenhas opositoras dos devotees. Vejam bem, que estou tentando passar como penso que elas se sintam e não o que eu penso sobre essas relações.

Em terceiro lugar e não menos comum... Esconder das amigas deficientes, da família que nem sempre apóiam esses relacionamentos. Nesse caso, ainda existe um outro motivo, procurar saber das amigas se determinado devotee as procura também.

Em quarto lugar e não em menor incidência , o próprio preconceito em relação aos devotees. Sair com um devotee seria para elas o mesmo que alguns devotees sentem quando se relacionam com uma deficiente. Ou seja: Vergonha.

Eu pensei em abordar outros pontos dentro da controvertida curiosidade que as deficientes sentem pelos devotees, ou melhor pelas nossas comunidades e nosso universo, porém negam, mas vou deixar para outro tópico.

Para fechar minha postagem volto ao que disse em seu início sobre a revolução sexual feminina. Talvez para nós deficientes ela tenha demorado um pouco mais, mas, estamos rompendo nossos casulos independentemente dos devotees. Agora, sem dúvida, eles nos mostram e nos mostraram como podemos e temos o poder de fascinar alguns homens.

Exercer esse poder às vezes é compensador, em outras decepcionante, em outras envolvente, mas a escolha é só nossa. E ter essa escolha é uma grande evolução para qualquer mulher, não apenas para nós deficientes.

Regina

sábado, 5 de maio de 2012

Big Bang




Volta e meia estamos batendo nas mesmas teclas, mas é necessario para que possamos buscar um maior entendimento e entrosamento entre deficientes e devotees e nós mesmos.

Não me lembro qual das meninas ou meninos disse que buscava na comunidade um auto conhecimento. Talvez todos nós façamos o mesmo...
Uma das dúvidas dos últimos dias é indentificar-se um devotee ou o momento da conscientização do que se é.

É uma tarefa complicada muito mais para nós quando falamos de terceiros do que para quem busca essa resposta. Por mais que escrevamos e tentemos entender esse Universo, a raiz da atração e a consagração de um devotee ainda são um misterio.

Dos relatos que temos, e é preciso dizer que nem todos os devotees estão dispostos a falarem de si mesmos, atitude que respeito, obviamente. Enfim dos relatos que colhemos o ponto pacífico é a atração por deficientes e por nosso Universo, por nossa órbita.

Alguns devotees lembram-se de ter despertada a atenção por deficientes na tenra idade, onde o sexo ainda era uma fase futura. Mas a atração pela figura do deficiente estava lá... Desenvolvendo-se posteriormente na pré adolescência, adolescência... Vida adulta.

Outros afirmam ter sido somente na adolescência em contato com pessoas deficientes, à distância ou mais perto. Na família, na rua, em qualquer lugar.
Lembro-me de um devoto de amps - não mais presente na comunidade - que nos relatava ter seu devoteísmo despertado ao ver uma amputada passeando pelas ruas. Desse momento em diante passou a sentir uma atração tão forte por amputadas que as procurava onde quer que fosse.

Observamos ainda, devotees que tiveram colegas de escola, deficientes, o que me parece ser o caso de Danni, nossa devota.
Uma outra ao ver um cadeirante quando menininha ainda...

E temos Jason, que um dia nos presenteou com sua história forte, marcante para quem teve a oportunidade de ler. Bem, não vou entrar em detalhes, pois é algo muito pessoal. Apenas tomo a liberdade de dizer que foi em sua adolescência com sua primeira namorada amputada.

São tantos os casos que se torna difícil de elencá-los de uma só feita, sem esquecer de nenhum. Cito ainda Stella, que prefiro que se assim desejar relate seu primeiro contato com deficientes, e que de certa forma conhecemos... Marquito que também nos presenteou com suas primeiras impressões dentro do devoteísmo...

E eu pergunto como identificar em cada um deles o momento exato de seu Big Bang, o momento da explosão de um novo Universo onde o pensamento da descoberta vem e indaga: Sou diferente? O que é isso que sinto? Existem outras pessoas iguais a mim? Esse universo é só meu?

É muito pessoal para que possamos sem ser invasivos (eu já o fui, tecendo o texto acima) esmiuçar a criação, o surgimento de um devotee...
Mas algumas observações podemos fazer, o devoteísmo é latente até que seja detonado seu gatilho, ninguém se transforma em devotee de uma hora para outra ou em contato com deficientes se não houver a semente do devoteísmo. Fui casada por um bom tempo com um não devotee para ter consciência e falar com propriedade que nem todas as pessoas em contato conosco são devotees.
E muito menos se transformam em devotees.

Essa latência dos desesejos dentro do devoteísmo estava lá submersa, pulsante, pronta para ser descamada. Mas na particularidade de cada um vai se processar de forma única, lentamente ou em um flash instantâneo...

A conscientização vem com a recorrência na procura por deficientes, na preferência por deficientes. Na emersão das dúvidas: Por que acho bonito uma pessoa mancar, por que sinto esse desejo de estar entre deficientes, por que gosto de ver cotos, por que gosto de ver muletantes, por que gosto de cadeira de rodas, porque e seus porquês e são inúmeros, diferentes. Infinitos em suas variações assim como são as pessoas e estaria sendo repetitiva se começasse a falar sobre as cores e matizes do devoteísmo.

Por isso quando nos pedem explicações ou para sanar suas dúvidas aconselhamos a ler nossos tópicos, nossos relatos, além de nossas respostas imediatas. Pois não está ao nosso alcance traçar os paralelos entre quem pergunta e o que já nos foi relatado. O que podemos fazer é tentar catalizar todas essas informações e oferecê-las sem pecar na indiscrição de expor demais nossos membros sem que os mesmos nos permitam.

O Big Bang, já teve um tópico em nossa comunidade, perdeu-se entre essas idas e vindas. Era um tópico onde cada um que assim se dispôs relatou sua descoberta e criação de seu universo dentro do devoteísmo, se alguém estiver disposto a contribuir novamente, agradeço antecipadamente.

Bom é isso...

Regina

PS: Todos os depoimentos colhidos após esse artigo constam em nossa comunidade no orkut: Deficientes e Devotees.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Devoteísmo Cíclico





"Complicada e perfeitinha, você me apareceu..."

Os versos dessa música referem-se às fases de uma mulher, alternando seus ciclos tal qual a lua. Ora em sua plenitude, ora em sua fase mais obscura.

Mas, essas fases tão mencionadas em letras, em prosa e em versos não se aplicam somente a nós mulheres quando o tema é desejo, fetiche e em nosso contexto que seria o devoteísmo.

Já escrevemos e debatemos sobre as primeiras impressões dos deficientes quando se tornam cientes da existência dessas pessoas tão instigantes que são os/as devotees.
Após a primeira impressão, a surpresa e a incredulidade transformam-se muitas vezes em deslumbramento e o verso: “Complicado e perfeitinho você me apareceu...” Encaixa-se sinuosamente nessa fase dentro da relação devotee/deficiente.

Porém, meu foco hoje não são as fases que possam ou não existir dentro desses envolvimentos, mas sim as fases ou os ciclos dos próprios devotees.

Muito se fala sobre o devoteísmo cíclico, ou seja, o devoteísmo seria para alguns, fases em suas vidas. Alternando com fases onde a sublimação dos desejos tortos estaria presente, sem a necessidade do contato com nosso universo. Não ouso dizer contato com os/as deficientes, pois me parece que alguns não buscam um contato pessoal, mas sim com tudo que engloba o universo dos deficientes, inclusive comunidades, sites, fotos, contos, etc.

A deficiência seria o sol a iluminar a revelar a face escondida do devotee. Com isso teríamos o devoteísmo à mostra em sua plenitude. 

Quando os contatos pessoais e efetivos com as deficientes ocorrem, vêm intensamente carregados da necessidade, da fome do alimento que lhes foi negado durante meses, anos em que se mantiveram afastados do nosso universo. E... Nesses contatos comumente se confunde essa procura com promessas veladas de um romance, com expectativas de um envolvimento maior, pois o devotee provavelmente se mostrará febril em sua procura, atencioso na ânsia de se saciar seus desejos. Complicado e perfeitinho...

Vale ressaltar sempre e sempre, que obviamente, para tudo existem exceções. Nada impede que desses contatos intensos possa germinar um romance.

Porém... Em grande parte dos casos, a sede e a fome saciadas, o devotee volta ao seu ninho, volta à sua vida rotineira.

Dessas observações surgiu o termo “devoteísmo cíclico”. Porém, cá com meus botões e teclas fico a pensar, se seria esse um desejo cíclico ou seria esse desejo um ciclo que se abre e fecha-se de acordo com as necessidades, as marés e as luas de cada um.
Cíclico seria o ápice, a procura, como seria cíclico o afastamento, a negação, mas nunca o devoteísmo. Devoteismo não é cíclico e não é um ciclo, a não ser, que esteja, ou seja, comparado ao próprio ciclo da vida e com ele caminhar lado a lado. Nascer, viver e morrer devotee. Os ciclos a que tantos se referem em minha opinião seriam as idas e vindas, procura e descarte das deficientes, como disse antes, jamais o devoteísmo. 

Para alguns o devoteísmo é seu lado obscuro, seu lado negro, seu segredo, seu desejo no fundo de suas caixas de Pandora. Não deixa de existir por não receber liberdade, apenas deixa de se manifestar, de se mostrar, de ser vivenciado. Quando as correntes se tornam pesadas demais, esse mesmo desejo açoitado e asfixiado emerge das águas turvas para arrebentar as tampas de sua prisão buscando um lugar ao sol. E sua face brilha, sua face se mostra.

Por medo da intensidade da face do devoteísmo, seus algozes e seus feitores já sabem o próximo passo, acorrentá-lo novamente.

Não são ciclos, não é cíclico o devoteísmo, apenas impedido de existir em sua magnitude. A lua exibe todas as suas faces, flerta com o sol, seduz os homens e à própria terra sem esconder seu lado negro ou seu lado pleno. Nesse namoro, tem seus ciclos mas não deixa de ser completa, integra, inteira, verdadeira e real... O devoteísmo espera apenas pela liberdade para vivenciar todos os ciclos de um relacionamento, seja ele efêmero ou duradouro. E cabe aos seus senhores alforriá-lo...

Regina

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Feitiços e Devotos




Feitiço...
Segundo a wikipédia:

“A palavra fetiche vem do francês fétiche, que por sua vez vem do português feitiço e, este, do latin facticius "artificial, fictício" é um objeto material ao qual se atribuem poderes mágicos ou sobrenaturais, positivos ou negativos. Inicialmente este conceito foi usado pelos portugueses para referir-se aos objetos empregados nos cultos religiosos dos negros da África ocidental".

Particularmente gostei muito do conceito acima, antes de trazê-lo para o devoteísmo, é possível perceber que quando dizemos que alguém tem um fetiche, ou que uma prática sexual é um fetiche surge a possibilidade de assimilarmos o encantamento e a intensidade dos desejos de um fetichista. Ou quem sabe seria melhor dizermos, de um enfeitiçado.

E é assim que me parecem alguns devotees, fascinados, enfeitiçados diante de um desejo, e o termo devoto é um encaixe perfeito nesse universo. Feitiços e seus devotos.

Mas cabe a quem enfeitiçar? O objeto ou quem detem os segredos da feitiçaria?
Então entramos nós, os/as deficientes, os magos, as feiticeiras, as bruxas... Nem sempre conscientes de seus próprios segredos e poder ou pressupondo que o feitiço que são capazes de provocar pode ser a sua própria consagração... E não raramente, nos sentimos muito mais fascinadas com nossos devotos do que eles conosco.

Para entender como se processa esse encantamento através de um fetiche, seja ele no devoteísmo ou em qualquer outro fetiche é preciso que entendamos um pouquinho das teorias tecidas sobre o tema.

Segundo alguns estudos na fase onde a criança passa a perceber as diferenças genitais entre homens e mulheres, pai e mãe; quando a criança (quase sempre de sexo masculino) não assimila bem esse processo, passa a tranferir seus primeiros desejos a algo que complemente a mulher ou em determinadas partes do seu corpo. E é aí que entram os fetiches, tanto por pés, por situações, por alguma idumentária diferente, sapatos, óculos, aparelhos dentais, aparelhos ortopédicos, etc. E até cotos...
O importante aqui é ressaltar que nenhum desses apêndices tem em si a conotação homossexual, e nada contra, por favor, apenas quero dizer que existe em torno dos devotos de amputadas essa dúvida, ser o coto a representação fálica real de um desejo. Não, não é assim, independente do enfeite, do apêndice, o fetiche é algo muito mais subjetivo.

Poderíamos ilustrar com uma criança alimentada no seio (fonte principal de desejo do lactente), os seios passam a ser representação da mãe. Assim como para um fetichista o out, o over, é sua fonte de prazer.

Existe outra teoria que nos diz sobre que as primeiras relações sexuais ou impulso intensos ocorrem diante do fetiche de cada fetichista, e aqui eu me lembro de depoimentos de alguns e algumas devotas que afirmam terem essa excitação diante de um/a deficiente em idade ainda precoce. E canalizarem essa atração a partir desses fatos.

Eu acredito que essas explicações sejam rasas, não conclusivas... Pois conforme vou escrevendo, vou me lembrando de outros casos, de outros depoimentos... Onde os devotees e as devotees demonstram terem sido enfeitiçados mais tarde, mais cedo, por outros motivos (como no caso dos wannabes), ou o que tenho percebido em algumas devotas uma necessidade de tocar a aura, e não estou dizendo alma, mas a aura dos deficientes. Enfim alguns casos que vão fugindo das teorias.

Mas o que não podemos negar é que realmente existe um feitiço dentro do devoteísmo, um feitiço poderoso capaz de agregar tantas personalidades diferentes dentro do nosso universo. Personalidades fascinantes ou nem tanto, personalidades de todas as cores, algumas cinzas, outras vermelhas e até cor de rosa.

E se esse feitiço ou fetiche existe que mal há? Nenhum... Mas lembremos que ele pode ser positivo ou negativo, depende tanto de quem têm os amuletos quanto de quem sente-se enfeitiçados por eles... E alguns enfeitiçados podem não querer as bruxinhas, os magos, as fadas... Somente seus amuletos...

Regina

terça-feira, 1 de maio de 2012

A Síndrome de Don Juan e o Devoteísmo...



Essa é uma abordagem já conhecida dentro de nossas comunidades, aqueles que nos acompanham há certo tempo já a conhecem. Por que trazê-la novamente? Por dois motivos: Primeiro, meu artigo se perdeu, segundo, uma postagem em outro tópico sobre Donjuanismo, não exatamente com esses termos, mas no remetendo à sedução e o fascínio do eterno: “Você não presta, mas eu gosto de você”. Levaram-me a reincidir no tema.

Homens e mulheres adeptos ao Donjuanismo têm em comum uma facilidade enorme em ligar seus pseudos feixes de empatia àqueles que desejam seduzir, como se assim o outro estivesse realmente a eles conectados. São capazes de manter presos em sua teia de sedução suas conquistas, mesmo que os/as conquistados/as tenham consciência de seus atos duvidosos.

Mas o quê difere um sedutor de um Don Juan? O primeiro nem sempre irá deixar sua conquista ou somar à ela outra e mais outra. Uma pessoa pode ser sedutora sem no entanto dar-se conta disso, pode exalar sensualidade e empatia sem ter o objetivo da caça...

Já um Don Juan, é um conquistador compulsivo e faz uso da sedução para atingir seus fins. É comum aqui em nosso universo observarmos esse tipo de comportamento, alguns devotees primam pela necessidade de números e não de qualidade, como se só assim, pudessem ser vistos como devotees. O que não é realidade. Um devotee sente atração pelo nosso Universo, redundantemente me repito, por nossos físicos, aparatos, etc. E não necessariamente será um conquistador, é preciso que aprendamos a separar a atração pela deficiência da compulsão pela conquista dos/das deficientes. Para que tanto nós deficientes quanto devotees possamos ter e exigir outros comportamentos dentro do devoteísmo.

Além da necessidade da conquista, que sempre será uma pessoa que possuirá um entrave para que seja seduzida, um pai, um irmão, um marido, um tio, e aqui provavelmente a deficiência será também um desses agentes, existe a forte atração pelo deficiente. Temos então um campo bastante fértil para que os Dons Juans possam agir com desenvoltura.

Muito se questiona sobre os sentimentos, amores e paixões em nosso Universo, muito se crítica e não tiro a razão de quem o faz. Mas para os Don Juans, e são assim rotulados, pela ausência de sentimentos, o envolvimento amoroso não existe. Por isso a facilidade em se desvencilhar de suas conquistas, isso acontece na maioria dos casos assim que atestam terem atingido seu objetivo, mais um nome em suas listas, pois, uma outra característica do donjuanismo é emitir uma lista de suas presas mesmo que não tenha compartilhado com elas de atos sexuais. Finalizada uma conquista partem quase que simultaneamente em busca de outra... Pois a adrenalina de uma de nova caçada se faz urgente.

Um outro ponto, Don Juans conhecem com exatidão os pontos fracos de suas caças, são capazes de demonstrar total interesse e responder aos estímulos do objeto do seu desejo, por isso são tão bem aceitos e confundidos com grandes amores. Dizem e agem como se a pessoa em questão fosse a mais importante e única durante o período em que se negocia uma rendição... Não é para menos que vemos tantas deficientes decepcionadas após esses envolvimentos. Pois o chão se esvai de um momento para o outro. Não percebem que tudo fez e faz parte de um jogo.

Como identificar se estamos diante de um Don Juan? Pela fugacidade de suas relações, pela falta de empatia que por fim demonstram com a decepção que possa causar em suas presas, pela dificuldade em assumir relacionamentos e mesmo quando assumem os processam de maneira leviana, sem comprometimento de seus atos com o outro.

Como eu sei que alguns ou muitos de vocês estarão pensando, mas as relações não são assim em todos os lugares? Não existe a prática do “ficar”? Sim, existe, mas diferentemente do donjuanismo é uma prática bilateral. No donjuanismo, o Don Juan conquista e o/a conquistado/a se envolve e não apenas “fica”. Em um dos lados existe um sentimento maior que será descartado assim que o outro se der conta ou se cansar.

Quanto a serem homens todos conquistadores, é sabido que mesmo os mais sedutores um dia amadurecem e procuram pela qualidade, pela verdadeira empatia. O que nunca ocorrerá com um Don Juan, poderá ainda em idade avançada se aventurar em suas conquistas, mesmo que possa ser ridicularizado em seu meio.

É patológico? Sim, se trouxer sofrimentos a ele ou a terceiros.

Mas como estamos cientes que dificilmente haverá reclamações estatisticamente registradas e aceitáveis para que um Don Juan venha a ser rotulado como tal, é necessário que nós estejamos atentas ao burburinho do que nos dizem e do que vivemos em nosso Universo dos Desejos Tortos, pois, desejar ter uma coleção de deficientes, não me parece ser um desejo dentro das convenções.

Regina