domingo, 3 de junho de 2012

Na Periferia do Devoteísmo...






Há algum tempo venho observando o surgimento de pessoas em nosso Universo que em uma análise mais profunda não se encaixariam nos dois segmentos que compõem a trilha devotee/ deficiente. São pessoas sem traços do devoteísmo e sem deficiências aparentes.
Homens e mulheres que ao presenciarem o frêmito que envolve a atração por corpos diferenciados - por ações de vírus, doenças ou traumas - boquiabertos ancoram suas presenças entre nós.

Poderiam me dizer que se tais pessoas chegaram até aqui são devotees em busca de contato, ainda que inconscientemente. Seriam se aqui não estabelecessem domicílio por outros meios e por outros motivos.

Lembro-me de vários casos onde esse contato ocorreu por fatores diversos. Elencar todos seria leviano, pois não gostaria de citar pessoas ou nomes. Mas para exemplificar falemos de fakes, alguns deles apareceram entre nós atraídos até mesmo pelos nossos avatares. Leem as comunidades, nos leem e devagar vão se posicionando aqui e ali.

De início se surpreendem, duvidando que possa haver uma atração genuína por deficientes sem que esteja contaminada por outros fatores. É notória essa incredulidade quando passam a exercer nas comunidades o papel de superiores ou de uma condescendência preconceituosa tanto com devotees quanto com deficientes.


Em geral vêem as deficientes como mulheres sem atrativos e sem a periculosidade que uma rival, uma concorrente possa ter. Passam então ao assédio mais aberto aos devotees, sem aceitar que um homem possa desejar uma mulher não convencional conjecturando que ali está um homem de bem, um homem problemático que precisa ser salvo do dragão do seu próprio fetiche.

Ledo engano. Homens de bem, podem ser, como podem ser homens do mal, como podem ser homens que carregam o bem e o mal, muito mais provável, claro. Problemáticos? Alguns são. Mas não como essas pessoas pensam, não existe ali um fator preponderante a moldar o devoteísmo. Não existe a escolha por deficientes por serem menos ou mais atraentes, menos ou mais potentes. Existe a atração e como ela responde ao meio, ao caráter e aos atos desses homens.

O quê me chama a atenção nesses casos periféricos ao devoteísmo é a invisibilidade a que remetem as/os deficientes. A atenção não está voltada a nós, mas aos devotees. Ao serem indagadas respondem com evasivas, algumas simulam serem devotas sem sequer ter contato com deficientes ou travar uma conversa via comunidade.
O jargão subliminar é quase sempre o mesmo: “Estou aqui, quero ser vista! Esqueçam as deficientes".
Outro engano, outro tropeço.Não somos um grupo fechado às pessoas não-deficientes e não-devotees, mas a experiência demonstra em muitos casos que os periféricos são pouco aceitos em nosso Universo pelo preconceito e pela desmedida tentativa de polarizarem o devoteísmo entre inferioridade dos deficientes e superioridade dos devotees. Sendo o primeiro grupo desconsiderado e o segundo o alvo de investidas amorosas.
Tendo essas investidas quase sempre desprezadas, tais pessoas passam então a fazer parte da periferia, passam a habitar o limiar entre nosso Universo e o ostracismo.

Ostracismo esse combatido com redes e mais redes de conversações, de informações e às vezes de manipulações.
Para não pecar pelo excesso de críticas a essas pessoas, vale ressaltar que também entre nós existe certa discriminação entre deficientes. Pois se, entre aqueles que não são deficientes a idéia da atração por um corpo disforme causa espanto e incredulidade, entre alguns deficientes paira a falsa impressão que uma deficiente com seqüelas mais graves, com amputações mais severas não é ou não será atraente aos olhos de um devotee.
E nesse ponto, tanto os periféricos quanto as estrelinhas do devoteísmo compartilham do mesmo engano. Para um devotee, deficiente é deficiente. Para os devotos de amputadas, as amputações que lhes atraem são extremamente excitantes assim como para os admiradores, as deficiências variadas.
Se existe algum grau de atração é particular ou pessoal, não por serem mais ou menos deficientes.

Voltando à periferia... Impossibilitadas de enxergarem o óbvio, de assimilarem o miolo do devoteísmo, tais pessoas condenam-se a viverem de vãs esperanças e de atenções secundárias, não por não serem deficientes ou devotees, mas por não aceitarem a essência do devoteísmo. O glamour que acreditam pautar nosso Universo nada mais é do que homens e mulheres sendo exatamente quem e o quê são, ao menos aqui virtualmente. Já fora da virtualidade, esses fãs não conseguem se proliferar mas refazem os mesmos passos, redobrando seus esforços em salvarem seus objetos de desejo, quando na verdade, condenados estão todos eles a viverem na periferia do Devoteísmo.

É isso...

Regina