sexta-feira, 4 de maio de 2012

Devoteísmo Cíclico





"Complicada e perfeitinha, você me apareceu..."

Os versos dessa música referem-se às fases de uma mulher, alternando seus ciclos tal qual a lua. Ora em sua plenitude, ora em sua fase mais obscura.

Mas, essas fases tão mencionadas em letras, em prosa e em versos não se aplicam somente a nós mulheres quando o tema é desejo, fetiche e em nosso contexto que seria o devoteísmo.

Já escrevemos e debatemos sobre as primeiras impressões dos deficientes quando se tornam cientes da existência dessas pessoas tão instigantes que são os/as devotees.
Após a primeira impressão, a surpresa e a incredulidade transformam-se muitas vezes em deslumbramento e o verso: “Complicado e perfeitinho você me apareceu...” Encaixa-se sinuosamente nessa fase dentro da relação devotee/deficiente.

Porém, meu foco hoje não são as fases que possam ou não existir dentro desses envolvimentos, mas sim as fases ou os ciclos dos próprios devotees.

Muito se fala sobre o devoteísmo cíclico, ou seja, o devoteísmo seria para alguns, fases em suas vidas. Alternando com fases onde a sublimação dos desejos tortos estaria presente, sem a necessidade do contato com nosso universo. Não ouso dizer contato com os/as deficientes, pois me parece que alguns não buscam um contato pessoal, mas sim com tudo que engloba o universo dos deficientes, inclusive comunidades, sites, fotos, contos, etc.

A deficiência seria o sol a iluminar a revelar a face escondida do devotee. Com isso teríamos o devoteísmo à mostra em sua plenitude. 

Quando os contatos pessoais e efetivos com as deficientes ocorrem, vêm intensamente carregados da necessidade, da fome do alimento que lhes foi negado durante meses, anos em que se mantiveram afastados do nosso universo. E... Nesses contatos comumente se confunde essa procura com promessas veladas de um romance, com expectativas de um envolvimento maior, pois o devotee provavelmente se mostrará febril em sua procura, atencioso na ânsia de se saciar seus desejos. Complicado e perfeitinho...

Vale ressaltar sempre e sempre, que obviamente, para tudo existem exceções. Nada impede que desses contatos intensos possa germinar um romance.

Porém... Em grande parte dos casos, a sede e a fome saciadas, o devotee volta ao seu ninho, volta à sua vida rotineira.

Dessas observações surgiu o termo “devoteísmo cíclico”. Porém, cá com meus botões e teclas fico a pensar, se seria esse um desejo cíclico ou seria esse desejo um ciclo que se abre e fecha-se de acordo com as necessidades, as marés e as luas de cada um.
Cíclico seria o ápice, a procura, como seria cíclico o afastamento, a negação, mas nunca o devoteísmo. Devoteismo não é cíclico e não é um ciclo, a não ser, que esteja, ou seja, comparado ao próprio ciclo da vida e com ele caminhar lado a lado. Nascer, viver e morrer devotee. Os ciclos a que tantos se referem em minha opinião seriam as idas e vindas, procura e descarte das deficientes, como disse antes, jamais o devoteísmo. 

Para alguns o devoteísmo é seu lado obscuro, seu lado negro, seu segredo, seu desejo no fundo de suas caixas de Pandora. Não deixa de existir por não receber liberdade, apenas deixa de se manifestar, de se mostrar, de ser vivenciado. Quando as correntes se tornam pesadas demais, esse mesmo desejo açoitado e asfixiado emerge das águas turvas para arrebentar as tampas de sua prisão buscando um lugar ao sol. E sua face brilha, sua face se mostra.

Por medo da intensidade da face do devoteísmo, seus algozes e seus feitores já sabem o próximo passo, acorrentá-lo novamente.

Não são ciclos, não é cíclico o devoteísmo, apenas impedido de existir em sua magnitude. A lua exibe todas as suas faces, flerta com o sol, seduz os homens e à própria terra sem esconder seu lado negro ou seu lado pleno. Nesse namoro, tem seus ciclos mas não deixa de ser completa, integra, inteira, verdadeira e real... O devoteísmo espera apenas pela liberdade para vivenciar todos os ciclos de um relacionamento, seja ele efêmero ou duradouro. E cabe aos seus senhores alforriá-lo...

Regina

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