sábado, 20 de outubro de 2012

Elas, as Devotas....




Interessante como ultimamente existe um divisor entre mulheres devotees e homens devotees. Por isso no texto de hoje tento esmiuçar essas diferenças. Tento, pois é complicado dentro do devoteísmo atestar o que é uma característica pessoal ou uma característica geral entre devotees.  No entanto homens são homens e mulheres são mulheres. Não há como negar que por si só a diferença de gêneros  nos apresente referências diferentes,  visões diferentes, sensações diferentes diante de um fato, de uma experiência e aqui diante de uma atração.

É importante deixar claro, que assim como no devoteísmo masculino também no feminino temos várias vertentes e preferências. Nem todas as devotas partilham dos mesmos gostos, mas a maioria prefere polio cadeirante ao contrário dos devotees homens que em sua maioria prefere amputadas. Mas é óbvio que encontraremos devotas universais, de amputados, cuidadoras, etc.

O quê me chama a atenção em algumas devotas principalmente naquelas que não assumem seu devoteísmo é a insistência em correlacionar a atração que sentem ao amor incondicional. Lembro-me que já escrevi a respeito desse "amor incondicional", amor peso, amor cobrança, amor mulher maravilha. Fico a pensar se do outro lado desse amor não existe alguém a sentir-se tão miserável a ponto de achar que não seria capaz de atrair e de conquistar uma mulher se não fosse em nome desse amor incondicional que se de um prisma pode parecer maravilhoso por outro nos leva a acreditar que em hipótese alguma deficientes são capazes de atrair por atrair, despertar interesse e desejo por despertar. Amor incondicional é amar além de, apesar de, mesmo que, apesar de... Não é desejar e sentir prazer exatamente pelo que somos, deficientes.

Sendo o devoteísmo uma atração tão forte pelo universo da deficiência e por deficientes não é surpresa que venha a gerar conflitos e dúvidas tanto para devotees quanto para nós. O que ocorre no devoteísmo feminino é acentuar algumas características assim como nos homens.

Lembro-me de uma devota ainda na comunidade do orkut que relatou a intensidade do que sentia ao ver na época o namorado cadeirante esforçando-se para vencer barreiras diárias como o passar da cadeira para algum lugar ou até mesmo outras mais comuns, desencadeando segundo ela uma alquimia entre instinto maternal e sexual. Também uma outra no antigo Ciadef relatava  quão forte era sua excitação ao manter relações com deficientes. O quê para eles era dificuldade para ela era motivo de prazer. Assim como há devotas que negam ser a atração física  o miolo do fascínio que sentem por deficientes alegando ser antes de tudo a atração pela aura para não dizer alma do deficiente e há aquelas onde a fantasia e o que cerca o deficiente vem a ser mais atraente do que o proprio deficiente. Um dos relatos que mais me chamou a atenção foi justamente um que se pautava na fantasia, no voyerismo, pois relatava essa devota que mesmo tendo se casado com um deficiente sentia-se mais completa masturbando-se ao vê-lo de muletas e claudicando do que mantendo relações com ele.

Enfim, assim como no devoteísmo masculino teremos também diferenças no devoteísmo feminino.  Sei bem que ao relatar aqui algumas peculiaridades dessas mulheres, sim pois são antes de tudo mulheres, estarei colocando em dúvida o bendito amor incondicional que algumas alegam sentir, mas eu vejo essas peculiaridades envoltas na subjetividade feminina confundindo tanto deficientes homens como as proprias mulheres devotees. O que é um paradoxo pois em alguns casos homens deficientes procuram mulheres devotees como se fossem elas garotas de programa, basta no ponto de vista deles, ser devotee para que acatem seus desejos ou curiosidade. 

O ideal seria o equilibrio ainda que haja a atração sexual por deficientes por parte das devotas, mulheres tem a tendência de subjetivar seus desejos. O que acredito ser um erro é não encarar isso de frente, nao encarar a atração pelo corpo sequelado e o que o cerca em prol de um pseudo amor incondicional. É necessario  levar em consideração que para amar é preciso muito mais do que o gatilho de uma atração, nesse caso,  muito mais do que a deficiência de um e o devoteísmo do outro.

Embora eu não seja uma devotee e sim uma deficiente não descarto a idéia que um homem deficiente desperte em nós mulheres nossos instintos mais profundos. Sem esquecer que somos únicos e respondemos aos estímulos sejam quais forem de forma única mesmo dentro de um padrão comportamental.
Hoje o devoteísmo está às claras para quem quiser enxergá-lo, hoje as informações pululam entre os sites, hoje não há espaço e nem motivos para que tentemos mascarar essa atração, ainda que venha vestida - ou despida - para matar, de batom, perfume e salto alto.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Em tempos de Facebook...




Há tempos não escrevo um texto no blog, confesso que por falta de tempo para aqui estar. O interessante é que mesmo mantendo minhas letras em dia em outros sites sinto falta de escrever em nosso Universo. Tenho lido uma coisa e outra quando entro. As observações das deficentes ainda têm um ponto nevrálgico, ou seja, a infidelidade dentro do devoteísmo. Por outro lado temos devotees que ora se agridem ora juntam forças tentando provar que existem devotees fiéis e disposto a um relacionamento monogâmico.

Acredito que existam, ainda não presenciei tal fato, mas tais devotees devem existir. Gostaria de lembrá-los que a internete propicia uma interação maior e consequentemente um trânsito livre embora muitas vezes esse ir e vir seja feito por labirintos e entre névoas, ainda assim para àqueles que buscam “liberdade" sem dúvida via web esse transitar torna-se bastante convidativo. Em um tema tão controvertido como o devoteísmo por mais que insistam que não, esperar que sejamos diferente nesse mar de emails, orkuts, facebooks, sites de relacionamentos diversos é no mínimo utopia. Existe uma variedade muito grande de cores e sabores. Com o tempo, algumas amizades se fortalecem e outras se diluem. Portanto usemos de bom senso ao travarmos contato com esse ou aquele para não cairmos na vala comum dos desinformados.

 É fato que alguns devotees trouxeram esses costumes já de fora da net e fora da nossa atmosfera, mais um motivo para ter cuidado com as tais expectativas. A compulsão e a infidelidade não nasceram dentro da internete, mas dentro da internete encontraram um campo fértil. Em contra partida encontraram também deficientes, ou melhor, pessoas que podem trocar informações com maior facilidade a respeito de qualquer tema ou indivíduo do seu interesse. Gerando assim muitas vezes conflitos entre a liberdade e a privacidade.

Não há inocentes e culpados, há quase sempre uma diferença de foco e de desejo. Mas está claro que deficientes esperam bem mais, muito mais, do que a maioria dos devotees pode ou quer ceder. Mas não é algo inerente apenas ao nosso Universo, os costumes estão mundando, o comportamento humano vem mudando ao longo das últimas décadas. Cada vez mais ficam escassas as relações e a procura por relações estáveis.

E em nosso contexto essa escassez se agrava pela estatística de um número considerável de deficientes e um número não tão considerável de devotees favorecendo-os quando  compulsivos.
Os grupos, os sites, as comunidades hoje são muito mais usados para estabelecer contato entre as pessoas do que propriamente para debates. O que por um lado é ótimo, o medo do desconhecido esvai-se entre uma palavra e outra. A relativa invisibilidade propicia a liberdade de externar desejos contidos e críticas que talvez não chegassem a lugar algum ao menos são lidas.

Mas, quanto aos debates em si... Esses, sinto que vão perdendo espaço, vão cedendo lugar ao deslumbramento e muitas vezes desencantamento consecutivo e instantâneo  pela falta de tato de alguns ao reduzirem deficientes e devotees a meros pedaços de carne a satisfazerem carências e desejos. E, como nem sempre a carne crua é bem digerida, assim também algumas palavras e expressões ao invès de promoverem um entendimento melhor entre os interessados pode sim acarretar um distanciamento maior.

 Diante dessa realidade perdemos a oportunidade de conhecermos um devoteísmo sem máscaras quando com palavras coagimos e inibimos devotees que estão dispostos a um debate sério a se posicionarem honestamente e são raros, bem raros. Da mesma forma que inibimos e coagimos deficientes de colocarem suas dúvidas pelo medo de serem ridicularizadas quando tentam se posicionar sem serem meras respostas ao que anseiam devotees. E essa tal liberdade que tanto ansiamos ao fim restringe-se não a de expressão ou des escolha mas sim e muito  a adubar relações rasas e efêmeras e em nosso universo um grande e imenso rodízio às vezes se faz presente solidificando o devoteísmo compulsivo.  Sem que no entanto estejam cientes devotees e deficientes de que isso não é liberdade, é muito mais viver um devoteísmo fast food.

 Assim é, assim tem sido, grupos e mais grupos surgem no facebook desde àqueles voltados à postagens de fotos eróticas, fotos de nus mais explícitos, conversações mais apimentadas em chats a poucos grupos que buscam debates sobre a relação deficiente/devotees. Se tudo já foi dito, postado, revirado, infelizmente sequer é lido por alguns que simplesmente em nome da liberdade trilham ao que me parece um caminho inverso ao da escolha consciente alimentando inconscientemente a compulsão dentro do devoteísmo. Não digo infidelidade. Para ser fiel é necessario antes um compromisso, um pacto ainda que velado,  isso me parece ainda difícil de acontecer.

Eu sei, nada muito diferente do universo lá fora, mas aqui  há a singularidade de devoteísmo ser um fetiche e que algumas deficientes ainda não se deram conta disso. Por outro lado, alguns homens deficientes parecem se apegar somente ao termo fetiche ao abordar as meninas devotees sem considerar que possam ser diferentes entre si e que estejam buscando cada uma a sua propria historia amorosa ou não. Assim as expectativas muitas vezes seguem um caminho contrario quando lidamos não apenas com deficientes e devotees mas sim com as diferenças entre os sexos e as diferenças, ainda bem, também entre pessoas do mesmo sexo. Tudo isso em nome da liberdade de se postar, curtir, compartilhar, falar e agir sem a responsabilidade de enxergar o outro, como se o outro fosse apenas o reflexo dos seus desejos. Mas nem mesmo o espelho é totalmente fiel ao nos devolver nossas faces...

Regina

domingo, 9 de setembro de 2012

Das Dores e Delícias do Devoteísmo...




Há uma música que diz:
"Cada um sabe bem a delícia e a dor de ser o que é."

No auge dos debates tanto hoje quanto antigamente, houve e há uma tendência forte de colocarmos o devoteísmo em primeiro plano e nós deficientes como meros expectadores. Esperamos, esperamos e esperamos. Mas... Exatamente o quê?
Alguns ficam em suas janelas a jogar pedras, outros rosas. Outros abrem suas portas, outros trancam a casa. Mas indiferente, nenhum deficiente se mantem.

Sempre gosto de lembrar as primeiras deficientes que ousaram, que fincaram suas personalidades nesse caminho que temos trilhado. Tudo era tão mais complicado. Considero-as verdadeiras desbravadoras. Essas sim, merecem toda a admiração possível. Em tempo, não me incluo, se elas me lerem, saberão que à elas deixo minha homenagem.


Muitas coisas mudaram, mas ainda sinto que poucas, raras deficientes ousam dizer: "Sim, me envolvi com um devotee, e daí?" 

Em um tópico em nossa comunidade me indagaram se eu mesma me envolveria novamente com um devotee... E disso comentários e mais comentários a respeito foram postados a respeito das relações com devotees e com não-devotees. 

Cada relacionamento é único. Por ser único a soma nos traz um resultado diferente.

Quero falar hoje, no entanto, apenas e tão somente do fascínio das deficientes pelo devoteísmo. Quero retirá-as do estado estático que insistem em ficar, mesmo que, participem dos debates.

Sim o devoteísmo fascina. Se assim não fosse, não seria polêmico, não seria notado, não seria execrado, amado ou odiado. E até tratado com deboche.

Lá fora, como costumamos dizer, o mundo gira ao redor da simetria, dos bípedes perfeitos... Ou com defeitos mascarados pela carne. Aqui não. Aqui estamos do avesso, somos assimétricos, tortos. Sim, somos. Não entendo bem, essa mania de algumas pessoas desejarem se enquadrar em quadrados, em quadros. Mesmo que tenham de se violentar.


Então o véu é retirado. Nos vêmos diante dos mais primitivos instintos. Somos desejados! O que fazer com o desejo que despertamos? Bailamos de um lado para o outro. Tantos conceitos, tantos senões, tantos arranhões. E esse frênesi, o arrepio na espinha... Aquele pensamento torto: Devo tentar?

Há acredito, eu, infinitas nuances no devoteísmo. Mas algo é peculiar a todo devotee. O olhar. Só um devotee pode e vai nos olhar como quem deseja saciar sua fome. Vasculhar nossos aparatos, vislumbrar o que se esconde dentro e por trás das próteses, orteses, cadeiras... Basta um olhar para que saibamos que ali se encontra um devotee.

Muito dessa atração, dessa energia, sentimos na net. Sentimos o fio que nos liga.
Todas as teorias, todos os discursos prós e contra o devoteísmo giram ao redor disso. Às vezes penso que todos esses debates são apenas disfarces nessa ciranda onde encontramos essa necessidade de estarmos ligados uns aos outros.

O devoteísmo pode nos dar o céu e o inferno. Muda nossos conceitos, inverte o significado das palavras. É preciso aprender um nomo idioma. Aleijado, não é mais pejorativo, é excitante dependendo do contexto.
Usar cadeira de rodas, próteses, aparatos não mais é apenas necessidade, mas motivo de admiração, motivo de atenção... Ser amputada, ter sequelas de polio, ser paraplégica ou tetraplégica, enfim, ser deficiente é quase ser e ter o ápice da perfeição para alguns. Dentro de um relacionamento isso tudo faz toda a diferença, se houver além disso afinidade, admiração e empatia. Não sei, não sei sinceramente se pode ou poderia haver relação mais forte, mais dolorosa, mais prazerosa e mais visceral.

E eu pergunto, como esse redemoinho pode passar em branco por uma deficiente? Se nem mesmo para os devotees isso acontece?

Difícil jornada essa nossa. Difícil momento. Onde o devoteísmo passa a ser somente o que ele é, um fetiche. Sem que nós, algumas deficientes, essas que ousaram conhecer o sal e o açúcar, o vinho e o vinagre, passamos longe de sequer sermos consideradas mulheres cientes das dores e das delícias de sermos o que somos. Mulheres, deliciosamente, dolorosamente... Mulheres.


domingo, 2 de setembro de 2012

Dr. Miguel... O Cuidador.




Para quem não sabe, Dr. Miguel foi um dos personagens da novela Viver A Vida. Viver a Vida chamou a atenção dos deficientes em geral pela trama tecida ao redor de Luciana, uma jovem modelo que torna-se tetraplégica. 

Houve uma discussão sobre o desfecho do drama vivido pela personagem, inclusive levantou-se a hipótese dela voltar a andar, o que não ocorreu já que o objetivo da novela era de alguma forma mostrar pessoas a se adaptarem à novas situações. Não direi superações, pois o lado negativo também delas existe quando se passa a impressão de que aqueles que não respondem ao que esperam  familia e sociedade em momentos díficeis, esses são relegados e sequer vistos e considerados. Prefiro pensar que cada qual com seu histórico de vida faz sempre seu melhor.  

Bom, voltando ao tema... É sabido entre paraplégicos e tetraplégicos que suas dificuldades vão além da dependência de uma cadeira de rodas ou de seus cuidadores. Mas hoje quero falar um pouco do médico que a acompanhou a personagem Luciana desde o início da trama, ainda na fase andante.

Miguel era um jovem médico,  namorado de uma moça problemática que sofria o transtorno da drunkorexia: A ingestão de bebidas alcoólicas ao invés de alimentos.
Apresentados as personagens, quero elencar algumas das características de Miguel. 

Não sei quais os critérios do autor ao compor personagens, se intuitivos ou embasados em pequisas, talvez outros, talvez os dois. Mas para mim desde os primeiros capítulos Miguel demonstrava ter características muito fortes de um cuidador.
Dividido entre a atração que sentia pela modelo ainda andante e os cuidados com sua namorada trilhava seus conflitos. Médico e como tal por si só, já era um cuidador formal. Cuidadores formais são todos aqueles que fazem parte da área assistencial, desde médicos, psicólogos, enfermeiros, etc.

Cuidadores informais são aqueles que prestam cuidados sem serem remunerados ou reconhecidos como profissionais. Miguel então também era um cuidador informal, já que prestava todos os cuidados à sua namorada problemática. O casal soava até meio estranho, sem encaixe, mas conforme a novela se desenrolava, Miguel foi acentuando sua devoção àqueles que necessitavam de seus cuidados. Devotee? Em potencial, talvez. Submerso. Sempre mesclando atração e cuidado. Fascínio e ternura.

Assim como nem todos os problemas da tetraplegia foram abordados pelo autor, nem todas as características do devoteísmo foram  vistas em Miguel.
A personalidade cuidadora de Miguel talvez tenha sido trabalhada para não soar fora do contexto. Mas é certo que o médico transpirava devoteísmo em suas cenas com a modelo. Os carinhos, o olhar, os toques, os cuidados iam além da atração que desde o início demonstrava por ela. Assim como a atenção para com a namorada foi cessando paulatinamente. O relacionamento se deteriorando enquanto que com Luciana foi se completando, se encaixando no que parecia ser o ideal para o médico... Devoção e paixão. 

No decorrer da novela deficientes reais foram inseridos à trama ajudando Luciana a tirar suas dúvidas em relação a propria sexualidade. O interessante é que não me lembro de Miguel ter tido essas dúvidas ou procurado informaçõe. Manteve-se  quase expectador de si mesmo. Não sei, não acredito que qualquer pessoa que se envolva com deficientes não tenha dúvidas ou não procure também informações sobre a sexualidade da pessoa de seu interesse. Por outro lado, pessoas casadas, namorados de deficientes prestavam seus depoimentos como se fossem verdadeiros príncipes e princesas. 
Em nenhum momento cogitou-se que também o outro, o par do deficiente pudesse sentir prazer em seus relacionamentos e estivesse nesses relacionamentos por outro qualquer sentimento que não fosse amor. Jamais uma atração, jamais o prazer que sabemos que devotees sentem com nosso universo e nós mesmos.

Por que bato nessa tecla? Pois vejo que ainda nossos contatos, namorados, ficantes revestem-se de uma aura de pessoas a nos completar e nunca o contrario, nós, homens e mulheres deficientes completando nossos pares.

Quanto a Dr. Miguel... Findou a trama casando-se com Luciana como num verdadeiro conto de fadas. O que é natural e esperado tratando-se de novelas. O devoteísmo cuidador e ativo ainda que o autor não soubesse ou não quisesse ficou implícito nas entrelinhas. O devoteísmo muito mais do que o devotee  esteve presente entre Miguel e Luciana...

Regina

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Eu prefiro... Eu desejo... Eu exijo...



Então é isso... Apesar de no fetichismo encontrarmos o foco da sexualidade em partes do corpo, lugares, roupas ou funções específicas e essa atração muitas vezes passar a linha limite da preferência para exigência, ainda assim há quem pense  e afirme que devoteísmo seja uma mera atração como por loiras, morenas, etc...
Bem sei que não. Tanto não é que dentro do devoteísmo existe uma hierarquia ou uma qualificação de acordo com os gostos de cada devotee.

Pode parecer um tanto frio esse ponto de vista, mas assim é. Há no devoteísmo diferentes exigências. Falo em exigências para que fique claro que ser devotee não é algo que se possa escolher ou determinar um prazo de validade.  Aos olhos dos devotees, ao toque dos devotees haverá sempre um brilho e uma intensidade maior quando se depararem com uma deficiente.

Há tempos idos, ainda em salas de bate papo, já existia uma separação entre dois grupos dentro do devoteísmo: Devotees Ortodoxos e Devotees Heterodoxos. Ou seja, devotees ortodoxos seriam pessoas com apenas um foco de atração e heterodoxos por mais de uma... Quase sempre ortodoxos preferem ou exigem amputadas e heterodoxos amputadas e outras.  É preciso dizer sempre que há exceções, há devotees com uma gama de atração considerável sem no entanto apreciarem amputadas, mas são exceções.

Hoje, aqui no Brasil é mais comum dizer Devotees de Amputadas e Devotees Universais...  E em alguns países devotees são considerados apenas pessoas que sentem atração por amputadas e admiradores os que estendem essa atração...  Independentemente de como sejam separados esses dois grupos é fato que um sente atração apenas por amputadas e o outro por mais de uma deficiência ou diversas deficiências quase sempre incluíndo amputadas.

Nessa hierarquia do devoteísmo universal ou heteredoxos ou admiradores, amputações estão em primeiro lugar seguido de pólio,cadeirantes por pólio, paraplegia e outras. O que não quer dizer  que não existam exceções, existem, óbvio.

Parece ser um pouco confuso, mas com o tempo vamos assimilando tantos labirintos.

Dentro das amputações ainda existem suas proprias hierarquias. A maioria dos devotees apreciadores de amputações tem no seu topo das atrações, amputações de membros inferiores acima do joelho ou bilaterais.  Também em alguns casos preferem que suas musas não utilizem de próteses para ter um maior acesso aos olhos e ao toque dos cotos.

Talvez soe estranho, mas se formos realistas, não há como ser diferente. São as amputações, é o nosso universo que os atrai, uma hora ou outra o toque, o desejo pelos cotos irá entrar em erupção por mais que esses desejos em uma primeira visão choquem.

Quanto as demais deficiências o mesmo ocorre, são os membros sequelados a atrairem homens e mulheres, é a condição limitada pelo físico que atrai.

Se isso não for aceito, se isso não for o mote do devoteísmo, não é devoteísmo. Mesmo que sejam devotees platônicos é a deficiência que os atrai e ponto e pronto. Acredito que negar isso seja hipocrisia.

A partir da aceitação do devoteísmo tal como é,  tudo fica mais simples. Encarar que haja uma escala hierárquica sem falso moralismo e sem melindres é outro ponto que pode e muito ajudar-nos a nos entendermos melhor sem falsas expectativas e sem cobranças  indevidas.

Portanto, eles preferem... Eles gostam... Eles desejam... Eles exigem que... E nós deficientes podemos gostar ou não gostar, preferir ou não preferir, exigir ou não exigir, desejar ou não desejar um devotee ou varios... Mas eles,  eles, não. Eles não têm escolhas entre o "sim" e o "não". Quando se é devotee existe apenas um caminho, o "sim". Mesmo que não aceitem-se como tal... A deficiência sempre estará provocando seus sentidos.

É isso.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Eu, aleijadinha?




Um dos pontos polêmicos do devoteísmo são suas nomenclaturas. Nem todos apreciam rótulos ou denominações. Devotee, para alguns passa hoje em diversos sites a ter o significado que gostariam que tivesse, para alguns amizade, para outros amor à alma, para outros  admiração pela aura do deficiente.  Mas não é bem assim. Devoteísmo é devoteísmo. É um fetiche, é uma parafilia. Gostem ou não. 
Ou não estaríamos falando de devotees.  Estaríamos falando de pessoas que se relacionam com deficientes, incluíndo familiares, amigos, namorados, simpatizantes, e até cuidadores sem serem necessariamente devotees.
Óbvio que dentro de nosso círculo social e familiar poderemos encontrar devotees. Mas é preciso que fique claro que devotees são pessoas atraídas por deficientes independente de ter um vínculo com algum de nós.

O que verte desse conceito são características pessoais de cada devotee, de cada preferência, de cada exigência. Sim pois pra mim um devoteísmo num grau mais elevado é muito mais exigência que preferência.

A partir disso vem outra polêmica, o estranhamento e a negação com o prazer que sentem devotees com outros rótulos, outros adjetivos a nós direcionados. Entre eles, aleijados, tortos, mancos, etc... 

Oras, sou ou não sou uma aleijada?

O significado de aleijado segundo o dicionario online de português é o seguinte:

Adj. Que tem algum aleijão; mutilado, estropiado, paralítico.

Pois sou uma aleijada! Sou amputada. Nada irá mudar isso. O termo "aleijada" soa pejorativo, soa desqualificativo, soa uma diminuição, soa quase um xingamento dependendo do contexto.
Mas em outro contexto, no contexto do devoteísmo,  esse mesmo termo é quase uma provocação sensual, um apelo sexual e erótico.  Sei que parece estranho e de mau gosto. Mas se um devotee sente atração por deficientes, sente atração por nossos aleijões. É isso que os atrai. Mesmo aos devotees cuidadores platônicos  buscam em nós nossas sequelas e mazelas. Assim nada mais excitante para alguns devotees do que usar o termos "aleijadinha", "amputadinha" e outros como forma vocativa de carinho.

Já, para as deficientes, se estiverem realmente à vontade dentro de uma relação com um devotee e esse devotee souber trabalhar seus conflitos  deixarão com o tempo todo o peso que possam ter adquirido ao serem apontadas como menos, como inferiores quando chamadas de aleijadas.  
Será quase uma catarse. E catarses trazem à tona todos os nossos sentimentos negativos libertando de velhos e pesados traumas...

É isso...

Regina

terça-feira, 24 de julho de 2012

Ah, Os Cuidadores...



Para começar é preciso dizer que há dois tipos de cuidadores: Cuidadores formais e cuidadores informais, não estou me referindo a devotees, somente “cuidadores”. O primeiro grupo está relacionado aos profissionais da área de saúde. Geralmente são remunerados. Exemplo: Médicos, enfermeiras, psicólogas entre outros.

O segundo grupo, Cuidadores Informais, é o grupo dos leigos e familiares, via de regra não são recompensados financeiramente pelos seus serviços.

Dentro desses dois grupos, Cuidadores Formais e Informais, é certo que encontraremos devotees.

Vejo que existe certa confusão ao diferenciar um cuidador informal familiar de um cuidador devotee. Ora, um devotee cuidador busca o “cuidar”, busca o prazer de fazer parte do invólucro social do deficiente. Já o cuidador familiar, quase sempre se encontra nessa situação porque foi levado à ela. Portanto se não procurou, se foi levado à essa situação não é um devotee.

É um erro atribuir ao devoteísmo cuidador um alto grau de altruísmo. Mesmo não havendo qualquer contato físico ou sexual entre devotee cuidador e deficientes há o componente “prazer”. O sentir-se bem auxiliando é o que leva um devotee ao voluntariado. Nesse caminho pode o devotee cuidador formal ou informal rasgar a seda que encobre seus desejos e procurar o prazer sexual, mas não é regra.

Outro fator que é preciso ser elencado: Alguns devotees cuidadores carregam consigo – quase sempre inconscientemente - a imagem que estando perto do deficiente terão atenção, carinho, notoriedade, enfim, terão prazer em nosso Universo. Pode parecer estranho, mas basta prestar um pouco de atenção para encontrar aqui ou ali devotees fascinados pelas nossas almas, quando na verdade a terra que alicerça esse fascínio novamente é o seu proprio deleite. Por isso o sexo não é o objetivo desses devotees.

Entre tantos rótulos, vale à pena ressaltar que em alguns países são considerados Devotos ou Devotees quem sente atração por amputados e Admiradores àqueles que estendem a atração para outras deficiências dentro de suas hierarquias pessoais.

Sendo assim, o caleidoscópio do devoteísmo nos permite descobrir diversas cores, formatos e dimensões dentro da complexidade humana. Devotees e admiradores podem pincelar de características únicas a atração por deficientes caminhando pelo vasto campo da sexualidade, ainda que, o sexo a dois possa não existir como no voyerismo ou no “cuidar”.

Regina

domingo, 3 de junho de 2012

Na Periferia do Devoteísmo...






Há algum tempo venho observando o surgimento de pessoas em nosso Universo que em uma análise mais profunda não se encaixariam nos dois segmentos que compõem a trilha devotee/ deficiente. São pessoas sem traços do devoteísmo e sem deficiências aparentes.
Homens e mulheres que ao presenciarem o frêmito que envolve a atração por corpos diferenciados - por ações de vírus, doenças ou traumas - boquiabertos ancoram suas presenças entre nós.

Poderiam me dizer que se tais pessoas chegaram até aqui são devotees em busca de contato, ainda que inconscientemente. Seriam se aqui não estabelecessem domicílio por outros meios e por outros motivos.

Lembro-me de vários casos onde esse contato ocorreu por fatores diversos. Elencar todos seria leviano, pois não gostaria de citar pessoas ou nomes. Mas para exemplificar falemos de fakes, alguns deles apareceram entre nós atraídos até mesmo pelos nossos avatares. Leem as comunidades, nos leem e devagar vão se posicionando aqui e ali.

De início se surpreendem, duvidando que possa haver uma atração genuína por deficientes sem que esteja contaminada por outros fatores. É notória essa incredulidade quando passam a exercer nas comunidades o papel de superiores ou de uma condescendência preconceituosa tanto com devotees quanto com deficientes.


Em geral vêem as deficientes como mulheres sem atrativos e sem a periculosidade que uma rival, uma concorrente possa ter. Passam então ao assédio mais aberto aos devotees, sem aceitar que um homem possa desejar uma mulher não convencional conjecturando que ali está um homem de bem, um homem problemático que precisa ser salvo do dragão do seu próprio fetiche.

Ledo engano. Homens de bem, podem ser, como podem ser homens do mal, como podem ser homens que carregam o bem e o mal, muito mais provável, claro. Problemáticos? Alguns são. Mas não como essas pessoas pensam, não existe ali um fator preponderante a moldar o devoteísmo. Não existe a escolha por deficientes por serem menos ou mais atraentes, menos ou mais potentes. Existe a atração e como ela responde ao meio, ao caráter e aos atos desses homens.

O quê me chama a atenção nesses casos periféricos ao devoteísmo é a invisibilidade a que remetem as/os deficientes. A atenção não está voltada a nós, mas aos devotees. Ao serem indagadas respondem com evasivas, algumas simulam serem devotas sem sequer ter contato com deficientes ou travar uma conversa via comunidade.
O jargão subliminar é quase sempre o mesmo: “Estou aqui, quero ser vista! Esqueçam as deficientes".
Outro engano, outro tropeço.Não somos um grupo fechado às pessoas não-deficientes e não-devotees, mas a experiência demonstra em muitos casos que os periféricos são pouco aceitos em nosso Universo pelo preconceito e pela desmedida tentativa de polarizarem o devoteísmo entre inferioridade dos deficientes e superioridade dos devotees. Sendo o primeiro grupo desconsiderado e o segundo o alvo de investidas amorosas.
Tendo essas investidas quase sempre desprezadas, tais pessoas passam então a fazer parte da periferia, passam a habitar o limiar entre nosso Universo e o ostracismo.

Ostracismo esse combatido com redes e mais redes de conversações, de informações e às vezes de manipulações.
Para não pecar pelo excesso de críticas a essas pessoas, vale ressaltar que também entre nós existe certa discriminação entre deficientes. Pois se, entre aqueles que não são deficientes a idéia da atração por um corpo disforme causa espanto e incredulidade, entre alguns deficientes paira a falsa impressão que uma deficiente com seqüelas mais graves, com amputações mais severas não é ou não será atraente aos olhos de um devotee.
E nesse ponto, tanto os periféricos quanto as estrelinhas do devoteísmo compartilham do mesmo engano. Para um devotee, deficiente é deficiente. Para os devotos de amputadas, as amputações que lhes atraem são extremamente excitantes assim como para os admiradores, as deficiências variadas.
Se existe algum grau de atração é particular ou pessoal, não por serem mais ou menos deficientes.

Voltando à periferia... Impossibilitadas de enxergarem o óbvio, de assimilarem o miolo do devoteísmo, tais pessoas condenam-se a viverem de vãs esperanças e de atenções secundárias, não por não serem deficientes ou devotees, mas por não aceitarem a essência do devoteísmo. O glamour que acreditam pautar nosso Universo nada mais é do que homens e mulheres sendo exatamente quem e o quê são, ao menos aqui virtualmente. Já fora da virtualidade, esses fãs não conseguem se proliferar mas refazem os mesmos passos, redobrando seus esforços em salvarem seus objetos de desejo, quando na verdade, condenados estão todos eles a viverem na periferia do Devoteísmo.

É isso...

Regina

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Autoestima e Devoteísmo...

 
 
Autoestima segundo a wikipedia tem o seguinte conceito:

"Em psicologia, autoestima inclui a avaliação subjetiva que uma pessoa faz de si mesma como sendo intrinsecamente positiva ou negativa em algum grau (Sedikides & Gregg, 2003)."

A partir dessa premissa quero falar um pouco de como a autoestima do deficiente poder a vir a ter alterações em contato com o devoteísmo.
Por mais que escrevamos e digamos que ser deficiente nos dias de hoje seja diferente de há alguns anos, não podemos fingir que somos vistos como pessoas convencionais. Através do olhar do outro muitas vezes a nossa auto-estima se deteriora, pois fazemos dos olhares alheios o nosso próprio espelho.

Uma situação muito comum para os/as deficientes, é serem vistos como bons amigos, como bons companheiros ou confidentes. Enfim em um meio social que cultua o convencional passam a ser assexuados. Quando saem dessa linha, quando ousam, os comentarios feitos são em sua maioria em tom de deboche e preconceito.

Onde entra o devoteísmo em meu raciocínio? Não sou mais uma neófita nesse universo e nem os olhares alheios me atingem. Mas não posso desconsiderar o efeito que o devoteísmo possa ter em qualquer deficiente, homem ou mulher, em sua autoestima em um primeiro contato.
Principalmente se o meio em que vive for inóspito.

No devoteísmo tudo que era negativo passa a somar, passa a encantar, revira-se as entranhas do convencionalismo para ser uma obra de arte surreal apreciada e desejada como tal. A autoestima do deficiente passa por uma transformação. Há aqueles deficientes que negam esse encantamento, negam o fascínio dos desejos tortos, negam serem vistos como objetos, segundo eles. Mas ainda assim, têm consciência que são desejados.

E existem aqueles que se deixam levar pelo devoteísmo como se fosse uma droga para todos os dissabores que possam ter tido em suas vidas enquanto deficientes.
Mas nesse caminho muitas magoas podem se acumular. Não é segredo para ninguém que dentro do devoteísmo temos as mais variadas personalidades e formas de exercer essa atração. Então a mesma autoestima que um dia teve seu up, começa a pregar peças na necessidade de não se manter mais em alta se não tiver contatos efetivos com devotees.

No vai e vem dos devotees, surgem as dúvidas: “O que tem de errado comigo? Se sou deficiente, por que eles não me querem além de uma noite, duas, ou por que não sou a única?”
A autoestima consequentemente cai consideravelmente nesses casos a ponto de se sujeitarem a receber migalhas na ânsia de fugazes momentos em que se sintam bem novamente.

Mas o problema não está no/na deficiente e sim nesses relacionamentos que vão perpetuando o mito que ser devotee é ser colecionador, que ser devotee é ser compulsivo, que ser devotee é ter quantas mulheres quiser e sempre com a conivência das mesmas.

Se existe a compulsão, se existem as coleções, se a idéia de que o devoteísmo não comporta outro tipo de relacionamento se não o aberto, é porque os/as deficientes compactuam com isso.

A autoestima retrata com exatidão como se processam as relações devotee/deficiente. Pois se nos acostumamos ao que é ruim esquecemos que podemos ter relacionamentos muito melhores até mesmo dentro do devoteísmo.

O equilíbrio se faz necessário em nosso Universo. É preciso sim, ter uma autoestima elevada para que não nos deixemos atropelar por preconceitos que trazemos através dos anos, mas essa autoestima que se modifica com o conhecimento do devoteísmo não pode e não deve pautar nossas vidas e nem nossas relações humanas. Digo humanas pois vejo que muitas vezes os/as deficientes se atropelam sem um resquício de dignidade. O importante é ter no devoteísmo um incentivo, uma forma de relacionamento, mas não fazer dele o centro de nossas vidas. Um/a deficiente que pauta sua autoestima colecionando devotees ou almejando se relacionar com esse ou aquele mesmo sabendo do comprometimento existente entre algumas deficientes e alguns devotees não pode mais tarde fazer cobrança alguma, pois nem mesmo terá sua autoestima em socorro.

É um caminho degradante, infelizmente.

Autoestima e ego se completam quando um e outro dentro do devoteísmo conseguem se suprir sem violentar a dignidade.

Regina

domingo, 20 de maio de 2012

Os Sem Rosto e o Devoteísmo...


Eu tenho pensado nas informações que estamos coletando na comunidade e na diversidade delas. Alguns pontos em comum entre os devotees são fáceis de serem observados e assimilados, não diria aceitos, pois ainda existe uma desconfiança muito grande por parte das deficientes em relação ao devoteísmo, ou melhor, não somente delas, mas da sociedade.

Por que essa desconfiança? Estamos há anos debatendo, mesmo aqueles mais novos entre nós estarão comemorando seus dois, três, quatro anos entre as paredes sem tijolos da internete, onde tudo o que se observa, tudo o que se vê não se apalpa, não tem cheiro ou gosto.

Eu sei que muito do que escrevemos aqui é mais do que falamos para nossos familiares ou melhores amigos, é comum nessas comunidades tanto deficientes quanto devotees usarem esses espaços para um auto conhecimento e revirarem suas entranhas.

Apesar de ter consciência das relações virtuais e de como elas podem ser intensas, tenho consciência também que durante esses anos não vi nenhum devoto fazer um relato de estar envolvido com uma deficiente, de ter conhecido ou de ter dado prosseguimento a essas relações quando houve um encontro, dois ou mais.

O que podemos notar aqui ou ali, são devotees que vêm nos relatar suas experiências, mas os outros personagens desses relatos são anônimos, não que as pessoas precisem nomear ou identificar esses personagens, não é isso, porém fica a impressão que o outro lado não existe, ou estão escondidos por trás da deficiência. Existe sim o intenso desejo do contato real ou virtual, o devotee e a deficiência, mas isso é tudo.

Como uma deficiente irá processar essas informações? É muito comum uma ou outra irem até as páginas de seus devotos deixarem uma pista, um recado na necessidade de se auto afirmarem quando um contato virtual rompe suas barreiras e cai de braços abertos na realidade e então elas dizem entre mensagens subliminares ou diretas: "Olha, nós saímos, lembra? Estou aqui, já me esqueceu?"

E o que vem logo a seguir na maioria dos casos? Nada, somente o silêncio... Desculpas vazias, a insistência da deficiente, às vezes o rancor, a decepção e fim...

Eu sei, alguns de vocês dirão: “Mas eu tenho um caso com uma deficiente há anos, assumo o que faço, saio com ela”.

Outros me dirão: “Não encontrei a deficiente ideal para assumir um relacionamento”.

E ainda: “Eu quero apenas sexo”.

Tudo bem, não vou questionar os motivos ou as desculpas, se são bem embasadas ou não.

Não me agrada ser defensora nem de um lado e nem de outro, as relações humanas por via de regra são muito complexas para que tentemos resumir o devoteismo com feminino e masculino ou vice versa, ou seja: Uma deficiente, um devotee. Um deficiente, uma devotee. Não, não somos o impar procurando o seu par. Claro, quando o encontro acontece pode ser perfeito.

Mas não lhes parece estranho que em anos de convívio e debates virtuais, nenhuma deficiente tenha vindo aqui relatar um contato que soasse mais agradável aos olhos de quem lê ou satisfatório à elas? Ou que algum devotee não tenha vindo dividir conosco as delícias de um envolvimento além do fetiche?

Isso tudo é muito nebuloso quando nos deixamos apequenar e escorrer o devoteísmo e a deficiência pelo funil dos rótulos. Quando nós mesmos perguntamos a esse ou aquele: Qual sua deficiência preferida? Ou... Já teve contato com devotees?

Geramos idéias errôneas, como se a deficiência e o devoteismo por si se bastassem... Não bastam, por isso ainda temos fantasmas, corpos sem rostos, sem identidade e expectativas absurdas tanto de um lado quanto do outro, pessoas lutando para ganhar uma face quando já as têm, mas não são vistas.

Regina

quarta-feira, 16 de maio de 2012

À Sua Semelhança...



Tenho observado entre nossos devotos um quê de dificuldade em relação aos amigos, familiares na aceitação do devoteísmo principalmente quando eles são oriundos de famílias religiosas e pensando nisso foi que resolvi escrever um pouquinho a respeito...

Para iniciar meu texto, trago o pensamento e a imagem que ainda vêmos em contos de fadas, filmes e principalmente a vigência atual pela busca de um corpo perfeito. O perfeito para o ser humano assemelha-se ao belo ao bom, à luz. As anomalias, o
disforme, o assimétrico, os aleijões são tidos em contrapartida como feio, escuro, mau.

Quando nos vêmos diante do antigo testamento, em Gênesis, na criação do mundo, e do homem, ao meio ao caos, segundo a Bíblia, se faz a luz, e assim posteriormente teremos a criação de todas as coisas e por fim o Homem à semelhança de Deus.
Ótimo, cria-se um homem perfeito, belo, simétrico, único e da perfeição dele surge Eva, pobre Eva... Enfim, todo o mal foi relegado ao feio, ao assimétrico, ao torto da primícia que somos perfeitos, bons, se formos semelhantes à Deus.

Na mitologia grega nos deparamos com Hefesto o Deus deficiente que não aceito no Olimpo é exilado às entranhas da terra onde exercerá uma atividade não exercida pelos deuses. Hefesto é um mito e como tal nos remete à origem, às raízes da sociedade, dos costumes, das leis, dos medos e quiçá do nosso velho conhecido o preconceito.
Oras, tudo que possa ser diferente de Deus ou dos Deuses é imperfeito, invoca o pecado, o profano, o castigo.

A deficiência passa a ser excludente. A humanidade adota o perfeito em nome de Deus, e assim seguem as várias vertentes religiosas.
E isso se torna tão forte e pungente que ainda hoje o deficiente é visto como um castigo, um meio de provação para si mesmo ou para aqueles que têm contato com sua realidade.

Sexo? O que é sexo para deficientes? Impossível serem desejados, dirão alguns, são pessoas indesejáveis, profanas, não bem quistas, tortas, feias. Ou não dirão, mas estará em seus inconscientes gravado pela história coercitiva da humanidade, seus mitos, sua religiosidade, suas crenças.
E por mais que neguem, sugiram outras teorias a respeito do preconceito quanto aos desejos tortos, não vejo outra explicação se não a própria história da deficiência dentro da religião e da sociedade.

Estão intrinsicamente ligados deficiência e devoteísmo quando o contexto é a negação da sexualidade do deficiente, do desejo do deficiente. Ao deficiente introjeta-se a imagem do pecado, do castigo, da ferramenta, do sofrimento, sem direito ao prazer, ao sexo pelo sexo, e nem mesmo para procriação. Aos devotees introjeta-se a imagem daquele que ousa a desejar o indesejável, ao que nega a perfeição de Deus para seu deleite, para seu êxtase.

Deixemos de lado todas as conseqüências, todas as relações devotees/deficientes, voltemos ao início, voltemos ao nosso Gênesis e veremos que o estranhamento pela atração que devotees sentem por nós deficientes está relacionado ao nosso próprio estranhamento, à nossa ignorância quanto à outras deficiências, à nossa intolerância com o que nós é também diferente. Porque alguns de nós também buscam no outro a semelhança com o perfeito, com o simétrico, com Vênus, com Adão, com Eva, com Eros, e não a semelhança com Hefesto.

E quem somos nós para condenarmos o torto, o imperfeito, a anomalia, o aleijão?
Se a religião, a sociedade impõem seus milhares de anos de excludencia do diferente e estamos buscando em outros pontos sermos aceitos, por que a dificuldade de tantos deficientes aceitarem que assim como nós nascemos ou nos tornamos diferentes existem pessoas que não são portadoras de nenhuma característica física torta, mas são portadoras de desejos diferentes, de desejos que não se encaixam na convencionalidade das religiões e sociedade? Se muitos deficientes tem essa dificuldade em aceitar, em assimilar, em deixar o preconceito de lado, como outras pessoas aceitarão?

Por outro prisma, os próprios devotees não se aceitam, caem nas mesmas armadilhas dos estereótipos, dos paradigmas da perfeição coercitiva da maioria. E preferem apegarem-se à ela, mesmo não concordando.

O que fazer? Comecei esse texto falando das famílias, e termino falando do indivíduo, da mudança de dentro pra fora, do um para dois, três, quatro ou mais... Para que tanto os deficientes sejam aceitos quanto os devotees, cada uma na sua maneira torta de ser.

A semelhança com Deus? Não sei, não... Não conheço um Deus em carne, osso, sangue, corpo e face, portanto difícil dizer qual de nós se parece com ele fisicamente.

Regina

sábado, 12 de maio de 2012

A Consagração do Devoteísmo...

 Algumas das dúvidas que sempre tive foram sobre as raízes do devoteísmo e o porquê da dificuldade em encontrarmos um denominador comum entre tantas teorias, sim, existem muitas características semelhantes entre os devotees, mas pinçar com precisão onde o devoteísmo teve início para cada um deles é uma tarefa quase impossível, só mesmo através de seus relatos individuais para vislumbrarmos como e onde brotou o desejo, a atração inicial individualmente. E ainda assim, muito do que não se recordam pode esconder essas raizes...

E eu penso que por esse motivo seja leviano atribuir um conceito definitivo ao que se é ou não um devotee. Ao que me consta em alguns países só são considerados de fato, devotees, devotos, pessoas que sentem atração por amputados. Englobando as vertentes dessa atração, ou seja, pretenders e wannabes. O que aqui chamamos de devotees universais são chamados por lá de "admiradores".
Bem sabemos no entanto que muitos "admiradores" dentro de suas próprias hierarquias nesse nosso universo de desejos tortos também sentem atração por amputadas.

Um outro fato curioso é a maneira como alguns devotees se portam, ao que já chamamos por aqui de voyerismo dentro do devoteísmo. Lembrei-me de um estudo feito com uma devota que ao se descobrir como tal por ler algo em uma revista sobre a atração que até então achava ser única e exclusivamente sua, foi buscar mais informações com profissionais.

Nesse estudo ela abriu suas gavetas particulares, relatando tudo que sentia desde o primeiro momento em que se viu atraída por um deficiente na adolescencia. Ela segue contando os vários contatos que teve com deficientes, inclusive casando-se com um. Mas o mais intrigante pra mim foi ela dizer que preferia a masturbação ao ver os deficientes e o próprio marido do que fazer sexo com eles. Alegando que o prazer seria muito mais intenso.

Eles apesar de deficientes não atraiam seu lado fêmea. A característica em comum sim, ou seja, a deficiência, mas não o conjunto. E acredito que nesse ponto temos a resposta para alguns de nossos tópicos onde abordamos a bissexualidade, a maternidade e a virtualidade. Não haveria seguindo o raciocínio desse estudo uma vinculação de alguns devotees à pessoa deficiente, mas sim à condição. Não existindo necessariamente um contato sexual com o deficiente, a fantasia prevalece sobre a realidade, mesmo em um contato real.

Ao término desse estudo, a devota relata ter simulado várias vezes ser deficiente, sentindo-se excitada com a prática, geralmente em viagens e lugares onde não era conhecida. E por fim admite e traz para si a própria raiz, a sua consagração, ser ela a deficiente. Isso a faria feliz, completa...

Um caso que também me chamou a atenção foi um outro devoto, depois de anos trabalhando com deficientes, finalmente se casa com uma amputada. Porém ao contrário da citação anterior, ele se sentia totalmente realizado, satisfeito, envolvido emocionalmente e fisicamente. Mas com um receio terrível que sua mulher descobrisse o devoteísmo e ser ele, um devotee. A sua consagração enquanto devoto, veio, mas envolta em nuvens de incertezas de ser aceito tal como é.

E então como ficamos? Como consagrar um devoto? Como dizer você é ou não um devoto? Ou, esses são melhores do que outros?

Eu citei esses dois casos pois ultimamente temos atribuído características distintas aos devotees homens e às devotees mulheres, e de repente me deparo com histórias totalmente diferentes do que estamos acostumados, histórias contrárias às regras, onde a mulher devotee pode ser bem mais distante da pessoa que porta a deficiência do que o homem devotee.

Seria bom que pensássemos um pouquinho antes de nós mesmos coroarmos o devoteísmo com uma coroa de flores ou de espinhos. Consagrar ou recriminar dentro de tantos achismos não está certo. Talvez por isso nossa dificuldade em conceituar o que às vezes foge aos nossos conceitos interiores e nossas expectativas.

A única certeza que eu tenho dentro da minha experiência enquanto amputada e observadora dentro de nosso universo é não sermos nós os deficientes melhores ou piores do que os devotees, essas pessoas tão instigantes...
E se houver um dia uma consagração ao devoteísmo, que seja uma consagração desprovida de preconceitos, uma consagração ao diferente... Sejamos nós, devotees ou deficientes...

Regina

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Ser ou não Ser, um Parafílico...

Sei que já falamos sobre as parafilias, mas acho importante retomar o tema para aqueles que ainda são neófitos em nosso universo.

Parafilia refere-se ao sexo paralelo, fora das convenções. Há de se lembrar que sexo oral, sexo anal já foram vistos como perversões, ou seja, parafilias. Assim como também a homossesualidade e as masturbações também tiveram seu momento parafílico em nossa história universal. Hoje o  correto quando nos referimos aos homossexuais seria dizer homossexualidade que seria uma preferência e não homossexualismo uma patologia.

Como ficaria o Devoteísmo se um dia saísse do rol dos ísmos ou até mesmo dos nossos achismos? Devotossexualidade? Que nome complicado...
Mas, enquanto isso não acontece o devoteísmo é classificado como uma parafilia dentro do fetichismo: Atração por objetos, partes do corpo ou até mesmo a falta delas.

Não é incomum um devotee ter mais de um parafilia por isso observamos alguns com pinceladas de sadismos, outros de voyerismos, etc.
Existe uma dúvida que paira sobre os interessados em nosso Universo, dúvida essa do mesmo cunho embora possa estar entre os deficientes e entre os devotees e não devotees:
“Serei eu um devotee por me relacionar com uma deficiente”?
“Será ele um devotee por estar comigo?”

As parafilias em geral são recorrentes, para um diagnóstico os profissionais consideram que seja necessário o mínimo de seis meses de fantasia e desejos sexuais intensos dentro de cada caso. Ou seja, alguém que faz da deficiência sua fonte de prazer há algum tempo mesmo não tendo relacionamentos com os deficientes, não há como fugir de ser um devotee ou admirador.

E isso é importante salientar, pois como vimos em outro tópico, existe a dúvida quando nós deficientes nos relacionamos com alguém. Não vejo como rotular todos os nossos contatos como devotees, a não ser que notemos que entre suas preferências formas de aproximação com outros deficientes ou com nosso universo, sejam essas formas quais forem.

E para desmistificar um pouco o mito da compulsão dentro do devoteísmo, acredito que muitos usem desse mito para desculpar seus atos, saliento que uma parafilia só é considerada patológica se for extremamente compulsiva. Sendo assim, podemos concluir que nem todos os devotees sejam compulsivos e obsessivos.

Em outra hora quero falar mais um pouco dos diferentes graus de intensidade dentro das parafilias e mais especificamente dentro do devoteísmo.

É isso... Beijos

Regina

terça-feira, 8 de maio de 2012

Devotees... Quem são?



Sei que muitas pessoas em nosso Universo já leram ou sabem o que irei postar, mas o tráfego de pessoas indo e vindo em nossas comunidades embora pareça pequeno é intenso. Com isso algumas informações não são observadas, outro fator para que isso ocorra é o fluxo de tópicos ser constante. Sendo assim, vamos lá:

1- Devotees:
Pessoas heterossexuais, homossexuais ou bissexuais que sentem atração por deficientes físicos, exercendo ou não essa atração. Em alguns casos os devotees não chegam a manter relações sexuais com os deficientes por alguns motivos, um deles ser um devotee cuidador que visa cuidar, estar por perto sem no entanto nem sempre vivenciar essa devoção sexualmente.

2- Como identificar o devoteísmo em uma pessoa?
Para nós deficientes só mesmo observando e estando atentas aos nossos contatos. Para mim um devotee se revela na maneira de olhar para uma deficiente.
Para os devotees, curiosos ou indecisos, identificar o devoteísmo em si mesmos nem sempre é simples. Pois, por mais que conceituemos o devoteísmo, as características pessoais de cada um faz um devotee ser único. Ou seja, as preferências são similares, alguns pontos são comuns, mas outros são extremamente particulares. Esse é um assunto bem amplo, que deixarei para esmiuçar em outra hora.

3-Qual o chamariz para um devotee?
Sempre, sempre a deficiência, seja ela materializada em muletas, cotos, condições, seqüelas, cadeira de rodas ou qualquer aparato do deficiente. A deficiência será sempre a resposta para a busca de um olhar de um devotee. Dentro ou fora da net. Basta que observem que aqueles que aqui chegam nos procurando vêm buscando o universo dos deficientes e entender a atração que sentem por nós.

4- Devotees são colecionadores?
Alguns foram ou são. Por que? Talvez alguns tenham uma dificuldade de estabelecer laços afetivos. E aí entramos no campo da compulsão, da patologia e até do preconceito.

5- Devotees são fetichistas? 
Sim, em uma menor ou maior escala. A atração é pautada em uma condição, em determinadas partes do corpo, ou em seus aparatos. Portanto uma parafilia. Parafilias, são atrações paralelas às convencionais. Lembrando que a homossexualidade, sexo anal, masturbações e sexo oral já tiveram seu momento parafílico e hoje não mais assim são consideradas.
6- Fetichismo é patológico?Nem sempre, a patologia se manifesta em fetichistas incapazes de estabelecer vínculos afetivos e amorosos. O que chamamos de coisificação. Portanto, devotees podem ter um devoteísmo patológico se forem incapazes de dar um passo a frente da atração inicial com um deficiente. O que não quer dizer que resultará em um encontro apenas. O entrave é estabelecer um relacionamento a contento dos envolvidos tendo como base inicial a deficiência.

7- Devotees amam?
Pergunta difícil... Mas sei que muitas deficientes têm essa dúvida e buscam o amor em nosso Universo. Eu acredito que sim, mas não é regra. Eu diria que são exceções, mas existem.

8- Devotees mulheres são diferentes de Devotees Homens?
São. Mas lembrem-se que o principal têm em comum: A atração pela deficiência de seus parceiros.

Esse nosso Universo é tão complexo que não conseguiria esquematiza-lo em um só tópico, seria impossível essa façanha. Mas como sei que as dúvidas são muitas nunca é demais repetir os conceitos mais básicos. E ainda assim nesses anos de debates, esses conceitos básicos sofreram mutações e estamos a todo momento inserindo ou tirando observações.

Bom, é isso...

Regina

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Rompendo o Casulo...




Tenho lido tantas coisas aqui e ali, não somente nas comunidades voltadas ao devoteísmo, mas também em comunidades onde debatem a posição das mulheres nos dias de hoje. Há quem pense que a evolução ou revolução e emancipação das mulheres as levaram a um retrocesso como seres humanos, ao sexo fácil sem critérios e à desvalorização do “ser” mulher.

Mas “ser mulher” vai além dos conceitos e achismos de algumas pessoas. Mulheres são complexas, mulheres sangram, mulheres conservam a fêmea dentro de si apesar do dia a dia, da rotina, da realidade e até mesmo de uma deficiência.
Se existem teorias e defensores da estagnação do progresso feminino, e nessas teorias e defesas, as deficientes ou minorias não são consideradas, imaginem como pode ser espinhoso o caminho de uma deficiente que busca o exercício da sua sexualidade diante dessas pessoas. Como as deficientes podem ser alvos da condescendência asquerosa e ou do escárnio ferino quando expostas em um suposto erro, em um suposto tropeço.

Já debatemos uma vez à volta à adolescência quando uma deficiente toma conhecimento do devoteísmo, hoje eu penso diferente, todas as mulheres estão sujeitas a essa volta se a adolescência não foi bem vivenciada e em momentos de fragilidade. Mas nas deficientes esse retorno parece ser mais intenso em um contato inicial com os devotees , basta observarmos o comportamento competitivo e as expectativas que deixam à mostra e a paixão instantânea que prolifera de seus relacionamentos, paixão essa, quase sempre unilateral.

E então, vem a cobrança da sociedade... Os olhos se voltam para elas... E eis que surge novamente o estigma de coitadinhas em paradoxo com a força que demonstraram ao se arriscarem...

É como se não houvesse uma saída, ou estão caçando, ou estão se vitimizando aos olhos daqueles que preferiam não estar cientes que elas, além de viverem, falam e pensam, e ás vezes falam alto, bem alto... Tanto que incomodam quem não quer ser incomodado.

Muitas então depois de um envolvimento com um devotee, que é o que nossa comunidade se propõe a debater, a deficiência, o devoteísmo, seus calços e percalços, enfim, muitas então preferem se calar, escondem seus romances, seus envolvimentos.

Acredito eu, que em primeiro lugar para buscar novos relacionamentos, para passar certa inocência em relação ao devoteísmo, certa pureza. Mas por mais que a sociedade nos cobre, nos vitimize ou nos iniba, aqui dentro desse círculo as deficientes têm um papel diferente e não deveriam vivê-lo como se fosse um crime a ser escondido ou uma mácula em seus currículos de pobres mulheres indefesas e ingênuas.

Em segundo lugar e bem usual é procurarem uma nuvem de fumaça para o orgulho quando sentem-se preteridas ou enganadas. Não saíram, não se relacionaram, portanto jamais foram usadas pelos vis devotees. Geralmente nesses casos podem tornar-se ferrenhas opositoras dos devotees. Vejam bem, que estou tentando passar como penso que elas se sintam e não o que eu penso sobre essas relações.

Em terceiro lugar e não menos comum... Esconder das amigas deficientes, da família que nem sempre apóiam esses relacionamentos. Nesse caso, ainda existe um outro motivo, procurar saber das amigas se determinado devotee as procura também.

Em quarto lugar e não em menor incidência , o próprio preconceito em relação aos devotees. Sair com um devotee seria para elas o mesmo que alguns devotees sentem quando se relacionam com uma deficiente. Ou seja: Vergonha.

Eu pensei em abordar outros pontos dentro da controvertida curiosidade que as deficientes sentem pelos devotees, ou melhor pelas nossas comunidades e nosso universo, porém negam, mas vou deixar para outro tópico.

Para fechar minha postagem volto ao que disse em seu início sobre a revolução sexual feminina. Talvez para nós deficientes ela tenha demorado um pouco mais, mas, estamos rompendo nossos casulos independentemente dos devotees. Agora, sem dúvida, eles nos mostram e nos mostraram como podemos e temos o poder de fascinar alguns homens.

Exercer esse poder às vezes é compensador, em outras decepcionante, em outras envolvente, mas a escolha é só nossa. E ter essa escolha é uma grande evolução para qualquer mulher, não apenas para nós deficientes.

Regina

sábado, 5 de maio de 2012

Big Bang




Volta e meia estamos batendo nas mesmas teclas, mas é necessario para que possamos buscar um maior entendimento e entrosamento entre deficientes e devotees e nós mesmos.

Não me lembro qual das meninas ou meninos disse que buscava na comunidade um auto conhecimento. Talvez todos nós façamos o mesmo...
Uma das dúvidas dos últimos dias é indentificar-se um devotee ou o momento da conscientização do que se é.

É uma tarefa complicada muito mais para nós quando falamos de terceiros do que para quem busca essa resposta. Por mais que escrevamos e tentemos entender esse Universo, a raiz da atração e a consagração de um devotee ainda são um misterio.

Dos relatos que temos, e é preciso dizer que nem todos os devotees estão dispostos a falarem de si mesmos, atitude que respeito, obviamente. Enfim dos relatos que colhemos o ponto pacífico é a atração por deficientes e por nosso Universo, por nossa órbita.

Alguns devotees lembram-se de ter despertada a atenção por deficientes na tenra idade, onde o sexo ainda era uma fase futura. Mas a atração pela figura do deficiente estava lá... Desenvolvendo-se posteriormente na pré adolescência, adolescência... Vida adulta.

Outros afirmam ter sido somente na adolescência em contato com pessoas deficientes, à distância ou mais perto. Na família, na rua, em qualquer lugar.
Lembro-me de um devoto de amps - não mais presente na comunidade - que nos relatava ter seu devoteísmo despertado ao ver uma amputada passeando pelas ruas. Desse momento em diante passou a sentir uma atração tão forte por amputadas que as procurava onde quer que fosse.

Observamos ainda, devotees que tiveram colegas de escola, deficientes, o que me parece ser o caso de Danni, nossa devota.
Uma outra ao ver um cadeirante quando menininha ainda...

E temos Jason, que um dia nos presenteou com sua história forte, marcante para quem teve a oportunidade de ler. Bem, não vou entrar em detalhes, pois é algo muito pessoal. Apenas tomo a liberdade de dizer que foi em sua adolescência com sua primeira namorada amputada.

São tantos os casos que se torna difícil de elencá-los de uma só feita, sem esquecer de nenhum. Cito ainda Stella, que prefiro que se assim desejar relate seu primeiro contato com deficientes, e que de certa forma conhecemos... Marquito que também nos presenteou com suas primeiras impressões dentro do devoteísmo...

E eu pergunto como identificar em cada um deles o momento exato de seu Big Bang, o momento da explosão de um novo Universo onde o pensamento da descoberta vem e indaga: Sou diferente? O que é isso que sinto? Existem outras pessoas iguais a mim? Esse universo é só meu?

É muito pessoal para que possamos sem ser invasivos (eu já o fui, tecendo o texto acima) esmiuçar a criação, o surgimento de um devotee...
Mas algumas observações podemos fazer, o devoteísmo é latente até que seja detonado seu gatilho, ninguém se transforma em devotee de uma hora para outra ou em contato com deficientes se não houver a semente do devoteísmo. Fui casada por um bom tempo com um não devotee para ter consciência e falar com propriedade que nem todas as pessoas em contato conosco são devotees.
E muito menos se transformam em devotees.

Essa latência dos desesejos dentro do devoteísmo estava lá submersa, pulsante, pronta para ser descamada. Mas na particularidade de cada um vai se processar de forma única, lentamente ou em um flash instantâneo...

A conscientização vem com a recorrência na procura por deficientes, na preferência por deficientes. Na emersão das dúvidas: Por que acho bonito uma pessoa mancar, por que sinto esse desejo de estar entre deficientes, por que gosto de ver cotos, por que gosto de ver muletantes, por que gosto de cadeira de rodas, porque e seus porquês e são inúmeros, diferentes. Infinitos em suas variações assim como são as pessoas e estaria sendo repetitiva se começasse a falar sobre as cores e matizes do devoteísmo.

Por isso quando nos pedem explicações ou para sanar suas dúvidas aconselhamos a ler nossos tópicos, nossos relatos, além de nossas respostas imediatas. Pois não está ao nosso alcance traçar os paralelos entre quem pergunta e o que já nos foi relatado. O que podemos fazer é tentar catalizar todas essas informações e oferecê-las sem pecar na indiscrição de expor demais nossos membros sem que os mesmos nos permitam.

O Big Bang, já teve um tópico em nossa comunidade, perdeu-se entre essas idas e vindas. Era um tópico onde cada um que assim se dispôs relatou sua descoberta e criação de seu universo dentro do devoteísmo, se alguém estiver disposto a contribuir novamente, agradeço antecipadamente.

Bom é isso...

Regina

PS: Todos os depoimentos colhidos após esse artigo constam em nossa comunidade no orkut: Deficientes e Devotees.