quarta-feira, 19 de março de 2014

Da Mediocridade...


Antes de escrever esse texto fiz uma mea culpa, não há como dissecar meus pensamentos sem encontrar neles olhos a me apontarem seus dedos e dizendo-me que não sou tão diferente. Todos nós temos nossa porcentagem de mediocridade, todos nós temos uma imagem projetada e dela muitas vezes não abrimos mão. Infelizmente. Mas mesmo assim, precisamos de um mínimo de ética e respeito em nossos contatos.

Acredito que alguns que me leem saibam da existência de um outro perfil meu, um outro dedicado à poesias e amigos poetas e ligados a blogs de literatura. Perfil esse onde sou bem mais ativa e  que mantenho restrito, longe desse Universo. Por quê? Questão de privacidade poderia eu responder. Mas não apenas isso. Não quero lá ser notada por minhas amputações, pela condição de ser deficiente.  Prefiro que minhas letras tenham o mesmo julgamento que tantas outras, longe bem longe de qualquer característica pessoal minha.

E tantas e tantas vezes me pergunto se muitos dos meus amigos poetas me veriam da mesma forma como veem se soubessem da minha deficiência, acredito que não. Nem os homens e nem as mulheres. Não, não procuro lá qualquer envolvimento, pelo contrário, fujo deles. Mas não há como não levantar hipóteses.  E não há como não pressupor a resposta.

Não me lembro quando foi que aceitei o pedido de amizade de um conhecido de conhecidos. Amigos em comum, enfim. Nada no perfil indicava que fosse fake ou recém construído. Só mais uma pessoa com alguns interesses e gostos em comum. Fotos pessoais, amigos pessoais, visões pessoais e para minha surpresa hoje, extremamente politizado e embasado em suas posições. Nada lembrava um dos devotees que por anos esteve nas comunidades ou grupos. Mas é um deles. A vaidade é um pecado e tanto... Com o tempo fui percebendo nele palavras dúbias, expressões dúbias ao comentar minhas postagens. Não, ele não se traiu, simplesmente deixou-se revelar, por vaidade.

Mas se por um lado me surpreendi com a face real desse devotee por outro me decepcionei ao me conscientizar que para tantas pessoas a mediocridade fala mais alto. Dentro do contexto do seu perfil, dentro dessa personalidade que poderia ser atraente dentro do nosso Universo, mas nunca foi, por apenas mostrar seu interesse em cotos, em um troféu, no caso essa que aqui escreve, dentro dessa personalidade há a mediocridade tatuada. Há o que todos querem, há o senso comum, convencional como estampa. Mulheres e mais mulhere loiras, morenas, simétricas, amigos, familiares retos, nada de torto existe lá, com exceção de mim. E eu me pergunto, seria procurada se não tivesse uma certa projeção entre os poetas? Seria procurada se lá assumisse minha deficiência?

Acho que não.

Assim como tenho certeza que para pessoas como esse devotee o importante é e será sempre a mediocridade, é e será sempre a superficialidade, a imagem, a aparência. Jamais uma pessoa que prima em seus contatos passar a imagem de um homem enquadrado nos moldes de olhos alheios,  terá coragem de assumir uma mulher deficiente, jamais terá coragem de remar contra a maré ainda que caminhe pelo socialismo e abrace idéias da esquerda ou dos excluídos como ele mesmo prega nos grupos em que o vi atuando.

Interessante como a mediocridade leva ao nivelamento, castra e reduz com suas formas, com seu vocabulário, com suas opções e preferências sexuais pré-estabelecidas e até mesmo com o poder aquisitivo.  Engraçado como preocupam-se em mostrarem seus bens materiais, seus carros, suas posses, suas mulheres convencionais dentro do modelo aprovado por papai e mamãe.

Medíocres. Sejam alguns homens devotees ou não, de direita ou de esquerda, conseguem em sua covardia serem iguais e medíocres ainda que acreditem e afirmem que não.

E eu em minha mediocridade ainda penso que nós mulheres sejamos deficientes ou não, temos o direito e a obrigação de nos respeitarmos dizendo "não" ao abuso seja ele qual for. Tanto faz se o abuso vier de uma procura mal intencionada em um perfil de uma rede social ou um abuso de pensarem que somos e merecemos menos, muito menos do que realmente merecemos e  somos.

Eu

2 comentários:

Anônimo disse...

Cara Regina

Há muito tempo acompanho o que voce escreve , por pura admiração a seus textos, porque apesar de devotee ,confesso que não tenho uma atração especial por amputadas .Portanto me considero isento e tenho uma admiração por sua pessoa independente da questão deficiencia . Durante todos estes últimos anos onde atraves da Internet descobri que aquela atração meio sem sentido que eu tinha era algo até muito comum e tinha até nome ... devotee raramente tive a vontade de discutir isso com alguem. Li todos os seus textos e criei um respeito por sua forma de abordar o assunto .Mas desta vez acho que voce tocou no ponto fundamental.Mediocridade .Acho que aí mora a grande questão. Homens e mulheres sempre serão atraidos por um sem numero de fatores. Nem a ciencia entendeu isso ainda.Mas com certeza , independente do fator do devoteismo , o que vai sobrar no final serão as pessoas que estão por traz dos dois lados , a deficiente e o devotee. Resumindo, bons homens serão bons devotees , boas mulheres serão boas defs . O adjetivo bom , neste caso , é usado para definir índole . Pessoas éticas sempre serão éticas. Beijos e obrigado por seu espaço. Ahh meu nome é Eric e meu emai é eriodejaneiro@yahoo.com.br

Regina disse...

Olá, Eric...
Obrigada por sua contribuição. São poucos os devotees que deixam suas áreas de conforto de observadores para dizerem o que pensam e o que sentem.