domingo, 2 de setembro de 2012

Dr. Miguel... O Cuidador.




Para quem não sabe, Dr. Miguel foi um dos personagens da novela Viver A Vida. Viver a Vida chamou a atenção dos deficientes em geral pela trama tecida ao redor de Luciana, uma jovem modelo que torna-se tetraplégica. 

Houve uma discussão sobre o desfecho do drama vivido pela personagem, inclusive levantou-se a hipótese dela voltar a andar, o que não ocorreu já que o objetivo da novela era de alguma forma mostrar pessoas a se adaptarem à novas situações. Não direi superações, pois o lado negativo também delas existe quando se passa a impressão de que aqueles que não respondem ao que esperam  familia e sociedade em momentos díficeis, esses são relegados e sequer vistos e considerados. Prefiro pensar que cada qual com seu histórico de vida faz sempre seu melhor.  

Bom, voltando ao tema... É sabido entre paraplégicos e tetraplégicos que suas dificuldades vão além da dependência de uma cadeira de rodas ou de seus cuidadores. Mas hoje quero falar um pouco do médico que a acompanhou a personagem Luciana desde o início da trama, ainda na fase andante.

Miguel era um jovem médico,  namorado de uma moça problemática que sofria o transtorno da drunkorexia: A ingestão de bebidas alcoólicas ao invés de alimentos.
Apresentados as personagens, quero elencar algumas das características de Miguel. 

Não sei quais os critérios do autor ao compor personagens, se intuitivos ou embasados em pequisas, talvez outros, talvez os dois. Mas para mim desde os primeiros capítulos Miguel demonstrava ter características muito fortes de um cuidador.
Dividido entre a atração que sentia pela modelo ainda andante e os cuidados com sua namorada trilhava seus conflitos. Médico e como tal por si só, já era um cuidador formal. Cuidadores formais são todos aqueles que fazem parte da área assistencial, desde médicos, psicólogos, enfermeiros, etc.

Cuidadores informais são aqueles que prestam cuidados sem serem remunerados ou reconhecidos como profissionais. Miguel então também era um cuidador informal, já que prestava todos os cuidados à sua namorada problemática. O casal soava até meio estranho, sem encaixe, mas conforme a novela se desenrolava, Miguel foi acentuando sua devoção àqueles que necessitavam de seus cuidados. Devotee? Em potencial, talvez. Submerso. Sempre mesclando atração e cuidado. Fascínio e ternura.

Assim como nem todos os problemas da tetraplegia foram abordados pelo autor, nem todas as características do devoteísmo foram  vistas em Miguel.
A personalidade cuidadora de Miguel talvez tenha sido trabalhada para não soar fora do contexto. Mas é certo que o médico transpirava devoteísmo em suas cenas com a modelo. Os carinhos, o olhar, os toques, os cuidados iam além da atração que desde o início demonstrava por ela. Assim como a atenção para com a namorada foi cessando paulatinamente. O relacionamento se deteriorando enquanto que com Luciana foi se completando, se encaixando no que parecia ser o ideal para o médico... Devoção e paixão. 

No decorrer da novela deficientes reais foram inseridos à trama ajudando Luciana a tirar suas dúvidas em relação a propria sexualidade. O interessante é que não me lembro de Miguel ter tido essas dúvidas ou procurado informaçõe. Manteve-se  quase expectador de si mesmo. Não sei, não acredito que qualquer pessoa que se envolva com deficientes não tenha dúvidas ou não procure também informações sobre a sexualidade da pessoa de seu interesse. Por outro lado, pessoas casadas, namorados de deficientes prestavam seus depoimentos como se fossem verdadeiros príncipes e princesas. 
Em nenhum momento cogitou-se que também o outro, o par do deficiente pudesse sentir prazer em seus relacionamentos e estivesse nesses relacionamentos por outro qualquer sentimento que não fosse amor. Jamais uma atração, jamais o prazer que sabemos que devotees sentem com nosso universo e nós mesmos.

Por que bato nessa tecla? Pois vejo que ainda nossos contatos, namorados, ficantes revestem-se de uma aura de pessoas a nos completar e nunca o contrario, nós, homens e mulheres deficientes completando nossos pares.

Quanto a Dr. Miguel... Findou a trama casando-se com Luciana como num verdadeiro conto de fadas. O que é natural e esperado tratando-se de novelas. O devoteísmo cuidador e ativo ainda que o autor não soubesse ou não quisesse ficou implícito nas entrelinhas. O devoteísmo muito mais do que o devotee  esteve presente entre Miguel e Luciana...

Regina

Nenhum comentário: